Título: Invasão de índios Xikrins pára produção de Carajás
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Empresas, p. B6

A Vale do Rio Doce tem expectativa de que hoje os índios Xikrins, que voltaram a invadir, na terça-feira, as instalações mina de Carajás, no Pará, desocupem o local e permita a normalização da produção e transporte de minério de ferro, interrompidas ontem. O diretor de ferrosos da Vale, José Carlos Martins, espera que "o bom senso prevaleça", pois a Vale vem cumprindo seus compromissos com a comunidade dos Xikrins, segundo acordo firmado em junho, de lhes repassar R$ 9 milhões. Mandado de reintegração de posse, atendendo a uma liminar da Vale na Justiça Federal, foi entregue pela Polícia Federal aos Xikrins.

Ontem, no início da noite, os índios enviaram à companhia uma lista de pedidos que incluem, desde o aumento no recurso mensal acertado em acordo com a empresa até a construção de 60 casas para a comunidade e reforma e manutenção de estradas. Em novembro de 2005, os Xikrins ocuparam o núcleo urbano de Carajás, vila dos empregados da companhia, também para pedir mais dinheiro a Vale. Para Martins, o problema dos índios não é da Vale, mas do Brasil e da Funai. "É um problema constitucional que requer uma solução mais ampla", disse.

A nova invasão levou a mineradora a deixar de produzir 250 mil toneladas ao dia de minério de ferro, o equivalente a um terço da produção diária total da Vale, de 650 mil toneladas. Com isso, a empresa pode deixar de ganhar US$ 12 milhões por dia, segundo cálculos de analistas com base no preço de US$ 45 a tonelada do minério.

O fato está preocupando a direção da companhia, como destacou Martins, pois a partir de hoje, se os índios não saírem da mina, pode vir a faltar minério para carregar navios ancorados no Porto da Madeira, em São Luís do Maranhão. A mineradora dispõe de apenas três dias de estoque de minério naquele porto, em decorrência da demanda aquecida pelo produto. O fornecimento do minério é hoje "da mão para boca", informou o diretor de ferrosos da Vale.

Carajás é o maior complexo minerador de ferro do mundo, com reservas de 17 bilhões de toneladas, operando com quatro lavras a céu aberto. No ano passado, foram produzidas em Carajás 72,5 milhões de toneladas de minério de ferro. Este ano, a produção deve alcançar 85 milhões de toneladas.

Na terça-feira, segundo nota da Vale, os índios chegaram a manter 600 pessoas do núcleo urbano de Carajás como reféns por cerca de duas horas. "Divididos em grupo, eles ocuparam a pêra ferroviária, locomotivas, sala de controle de pátio, além de outras instalações", informou a empresa. A nota diz ainda que ontem cedo mais de cinco mil empregados que iriam iniciar o turno de serviço em Carajás foram impedidos de entrar na área industrial, o que causou a suspensão das atividades operacionais no local.

A mineradora recorreu à Justiça. Ontem, pela manhã, obteve liminar ao pedido de reintegração, já que as operações da empresa não estão em terras dos índios. Á tarde, a Polícia Federal esteve em Carajás e entregou aos líderes dos Xikrins o mandado de reintegração, concedido à Vale pela Justiça, que determina a desocupação da área. As lideranças indígenas receberam o mandado mas não desocuparam a área, conforme a terceira nota divulgada pela empresa no dia.