Título: Sudeste da Ásia corta mata por energia
Autor: Souza, Marcos
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Internacional, p. A13

Enquanto a China planeja cultivar árvores para produzir biocombustíveis, as vizinhas Indonésia e Malásia são acusadas de derrubar suas florestas para expandir os plantios das palmeiras de dendê, outra fonte importante de combustíveis renováveis.

A Malásia e a Indonésia são os maiores produtores mundiais do dendê. A produção é usada não só como fonte de energia alternativa, mas também para a fabricação de óleos comestíveis, para consumo próprio e para exportação.

Um estudo recente da ONG Friends of the Earth diz que 87% das queimadas do país eram promovidas por produtores de dendê. Na Indonésia, as queimadas para abrir áreas de plantio são tão intensas que chegam a cobrir de fumaça os países vizinhos.

O corte de árvores na Ásia para a produção do dendê tem chamado a atenção não só de ambientalistas. Diplomatas da União Européia, por exemplo, também observam a situação com cautela.

O bloco já produz e consome biodiesel fabricado, principalmente, de canola. Mas tem como meta aumentar o conteúdo energético de todo seu combustível vindo de fontes renováveis para 5,75% até 2010. Hoje, o percentual gira em torno de 1,5%.

Para atingir a meta, o bloco deve ampliar a importação de combustíveis limpos. Mas entre técnicos da UE, há o temor de que a região venha a importar biocombustíveis de países que promovem o desmatamento. Seria o caso da Indonésia e Malásia e, acusam os europeus, também do Brasil, onde a soja - uma das mais importantes bases para o combustível limpo nacional - avança sobre a Amazônia.

A UE estuda adotar critérios de sustentabilidade para evitar que no futuro seja vista como promotora indireta da devastação. A idéia é polêmica porque pode ser apenas um pretexto para dificultar o acesso ao mercado europeu e proteger produtores rurais locais. Mas poderia ser um serviço importante em prol da preservação de florestas em países ansiosos por exportar biocombustíveis e nem sempre tão dedicados na preservação ambiental, acreditam ambientalistas.