Título: Alcoa e Eletronorte iniciam negociação da tarifa de energia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Empresas, p. B9

Feder, presidente: " "Se não houver mudança no contrato da energia para Alumar, o benefício será zero para a Alcoa"

A Alcoa Alumínio inicia esta semana negociações com a estatal Eletronorte para renegociar seu contrato de fornecimento de energia da hidrelétrica de Tucuruí para sua fundição de alumínio no consórcio Alumar, em São Luís (MA). Sem quebrar esse contrato, que vence em 2024, a empresa não poderá usufruir da redução de 28% na tarifa de energia para o setor industrial. É o que preveem as medidas de renovação de concessões elétricas que vencem entre 2015 e 2017 e de retirada de vários encargos na conta elétrica anunciadas dia 11 pela presidente Dilma Rousseff. "Se não houver mudança no contrato, o benefício será zero", afirmou ontem, em entrevista ao Valor, o presidente da Alcoa na América Latina, Franklin Feder.

O executivo, que chegou a escrever uma carta à presidente Dilma em março alertando que se não houvesse corte no custo da energia a Alcoa teria de fechar uma fábrica em Poços de Caldas (MG) e paralisar uma linha do consórcio Alumar, afirmou que as medidas de barateamento da energia foram muito boas para o país. "Uma decisão determinante e corajosa da presidente", disse.

Feder admite que começa agora uma nova batalha, pois o contrato com a Eletronorte tem uma série de detalhes que o amarram. Além do valor da tarifa, ele está atrelado a um piso (US$ 1,72 mil a tonelada) do preço do alumínio negociado na Bolsa de Londres (a LME) e ao câmbio (cotação do dólar versus o real). "O preço do alumínio melhorou nos últimos dias, mas chegou até US$ 1,85 mil a tonelada, o que é baixo para os padrões atuais de competição da indústria com esse preço de energia". E, segundo Feder, não se vislumbra um cenário positivo do preço com o elevado estoque do metal no mundo - 25%, ante o total de consumo de pouco mais de 40 milhões de toneladas ao ano.

Ele lembra que não é uma ação simples desfazer o contrato com a Eletronorte. "Como se trata de uma licitação, poderá haver problemas com o Tribunal de Contas da União (TCU)", afirmou. Atualmente, o custo da energia fornecida pela Eletronorte é superior a US$ 80 por MWh. A média mundial fica em torno de US$ 40.

"Redução da tarifa, com medidas, é importante, mas não o suficiente para estimular novos investimentos no país"

No Oriente Médio, observou Feder, o preço da energia, obtida a partir do gás, fica entre US$ 15 e US$ 20 por MWh. É para lá - Emirados e Arábia Saudita - que está se dirigindo os novos investimentos. A região já conta com capacidade instalada de produção 8 milhões de toneladas do metal ao ano. A Alcoa, por exemplo, está aportando mais de US$ 3 bilhões em um projeto gigante, de US$ 11 bilhões, na Arábia Saudita, com investidores locais. O empreendimento envolve desde mina de bauxita até o metal e chapas laminadas para automóveis e latas.

A China responde por 40% (16 milhões de toneladas) da produção mundial, com custo baixo da energia - a US$ 10 por MWh. Todavia, como se tratam de fundições pequenas, todas apresentam custo elevado de produção. Apesar de subsidiadas pelo Estado, têm operação deficitária.

A energia é o item de maior custo na produção do metal. Em alguns casos, no Brasil, chega a 50% para as fabricantes, ou até passa. E a Alcoa não está sozinha nessa questão com a Eletronorte. A Albrás, do grupo Norsk Hydro, e a BHP Billiton também terão de renegociar seus contratos com a estatal ligada à Eletrobras, pois foram firmados no mesmo modelo.

"A redução da tarifa no Brasil, com as medidas, é importante, mas não suficiente para estimular novos investimentos locais, pois traz o custo da energia para o setor próximo da média global de US$ 40 o MWh. E nesse valor não é possível fazer novos projetos", afirmou. Para Feder, a decisão é um importante passo para manter a competitividade da produção de alumínio no Brasil. "Para por aí: não é possível ir além".

Chegando a um bom termo na renegociação do contratos com a Eletronorte, ele reitera que foi afastado o risco do corte de produção nas duas fundições de metal primário no país, grande sorvedouro de energia, aptas a fazerem 365 mil toneladas por ano. No início do ano, a multinacional americana fechou fundições nos EUA e Europa (Espanha e Itália). Ante a crise europeia, até o Primeiro Ministro italiano, Mário Monti, apelou à alta direção da Alcoa pelo não fechamento, apesar de o custo da energia no país ser um dos mais altos do mundo.

As duas unidades do Brasil ficaram sob avaliação a partir de janeiro, esperando uma decisão de governo sobre a questão da tarifa de energia local, também uma das mais elevadas do mundo. Até o presidente mundial da companhia, Klaus Kleinfeld, veio ao país em meados do ano discutir o assunto com Dilma, depois de encontros em 2011 com Edison Lobão (ministro de Minas e Energia) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio).

"O setor de alumínio não conseguia convencer [as autoridades de Brasília] de que precisava de uma tarifa menor para continuar produzindo aqui", disse Feder. "Em março, a presidente entendeu isso e pediu que a Alcoa estendesse seu prazo [de fechamento das fábricas] por mais 90 dias".