Título: BB cria 'fábrica' de olho em habitação
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Finanças, p. C1

O Banco do Brasil entrou determinado a ganhar mercado no financiamento do Minha Casa, Minha Vida, o programa de habitação popular do governo federal. O banco montou uma "linha de produção" para agilizar as aprovações de crédito, com pequenas unidades de todos os departamentos necessários para avaliação dos projetos, como jurídico, engenharia e risco de crédito alocados em um mesmo espaço, na antiga sede da extinta Nossa Caixa, no centro de São Paulo.

O objetivo é que a liberação de cada projeto aconteça o mais rápido possível e os primeiros contratos parecem ter atingido o objetivo, com assinaturas em pouco mais de 10 dias. Na Caixa Econômica Federal, os contratos dentro do Minha Casa, Minha Vida com construtoras nas faixas com mais subsídios demoram, em média, de 45 a 60 dias para sair.

"Montamos uma verdadeira linha de produção igual às de fábricas de automóvel", diz Gueitiro Matsuo Genso, diretor de crédito imobiliário do BB. O primeiro contrato assinado, com a Direcional Engenharia para a faixa 1 no Ceará, demorou 60 dias, mas o seguintes já foram mais rápidos, diz. O processo de originação é dividido em fases: cadastro, aprovação de crédito, documentação jurídica e avaliação do imóvel e o prazo médio de assinatura já caiu para 12 dias. No crédito imobiliário tradicional, o prazo alcança 20 dias úteis no próprio BB.

Segundo construtoras ouvidas pelo Valor e que atuam nesse segmento, o BB de fato está agressivo e com um processo mais célere do que a Caixa tanto para a aprovação dos contratos quanto para a liberação de recursos ao longo da obra.

A rapidez no Minha Casa, segundo Genso, se deve à antecipação das fases de análise. O banco antecipa a avaliação jurídica do vendedor e do imóvel para que, no momento do financiamento à pessoa física, seja necessária apenas a análise complementar do comprador (documentação pessoal, comprovação de renda e atendimento às regras do programa). Há ainda o apoio de correspondentes imobiliários, que usam ferramentas pela internet para cadastramento e remessa de documentos.

"Os ganhos são perceptíveis graças à integração entre as diversas áreas, como análises de crédito, técnica (engenharia), jurídica e documental", diz. "A gestão administrativa do centro é única e, respeitadas as normas técnicas de cada uma das áreas, há visão única sobre as operações", explica Genso.

O plano de negócios foi colocado em ação em fevereiro deste ano e aprovou até agora 20 mil unidades. Há outras 20 mil em avaliação e 60 mil na fila, nas três faixas do programa, que atende famílias com renda mensal de até R$ 5 mil. A meta é chegar a 500 mil unidades até 2014. "Nossa entrada no Minha Casa, Minha Vida fará com que sejamos o segundo do mercado de credito imobiliário nos próximos anos", avalia o executivo.

O BB tem hoje uma carteira imobiliária total de R$ 10 bilhões, com participação de mercado da ordem de 4%. A instituição acredita que, se tiver mais de 10% do estoque total, poderá assumir a vice-liderança, atrás apenas da Caixa.

Como consequência, em 2016 o banco espera ter entre 40% e 45% das suas operações lastreadas por recursos do Fundo de Garantia do Trabalhador por Tempo de Serviço (FGTS), que é a fonte de "funding" do Minha Casa. Hoje, esse percentual é de 3% da carteira do banco.