Título: Disputa entre Temer e Jobim adia reforma
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Política, p. A12

A disputa pelo comando do PMDB entre o deputado Michel Temer, atual presidente, e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, pode levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a deixar para depois de 11 de março, data marcada para a convenção pemedebista, a definição da reforma ministerial, pelo menos no que se refere ao partido. A indefinição do presidente levou integrantes da bancada na Câmara a ameaçar o governo de não votar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) até a escolha dos novos ministros.

A notícia de que o presidente esperaria pela eleição do PMDB para nomear os ministros do partido circulou no início da tarde, após uma conversa de Lula com o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, O novo líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN), no entanto, informou à tarde que já na próxima semana Lula deve receber Michel Temer para conversar sobre os espaços do partido no governo.

Alves classificou como "ansiedade natural" a inquietação entre os deputados pela indefinição do ministério, mas assegurou que o PMDB vai ajudar na aprovação do PAC. "Entramos de cabeça na coalizão", disse. "O PAC deve ser discutido e aprovado até o final do semestre". Segundo Henrique Alves, o presidente Lula está dentro do cronograma a que se comprometeu com o partido - só discutir o novo governo após as eleições no Congresso.

As divergências sobre o prazo para a conclusão da reforma ministerial refletem a disputa entre dois grupos do PMDB, os antigos governistas, liderados por Renan Calheiros e José Sarney, e os chamados de "neolulistas", que se agruparam em torno da eleição do deputado Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara e agora exigem a reciprocidade do governo. Para os senadores, interessa que Lula deixe a reforma para depois da eleição do novo presidente do PMDB, pois eles pretendem substituir Michel Temer por Nelson Jobim no cargo. Contam com a simpatia de Lula por Jobim, nome que cogitou ter como companheiro de chapa na eleição e para ocupar o Ministério da Justiça.

Temer tomou o café da manhã ontem com Jobim. O deputado disse ao ex-presidente do STF que, por ter feito a coalizão com o governo e e se engajado com sucesso na candidatura de Chinaglia a presidente da Câmara, decidira concorrer à reeleição. Ressaltou, no entanto, que não se sentiria "confortável" em disputar com Jobim. Queria saber se ele era mesmo candidato a seu cargo. Jobim desconversou. Disse que ainda não tomara uma decisão e que daria uma resposta a Temer na próxima semana. Na realidade, Jobim é candidato.

Segundo apurou o Valor, Temer atribui a manobra de adiar a escolha dos ministros pemedebistas ao senador José Sarney. Isso porque, no acordo para eleger Chinaglia, ficou acertado que, em 2009, o PT ajudará a eleger presidente da Câmara um nome do PMDB. Temer, que já presidiu a Casa, seria um candidato natural. Com a presidência da Câmara com pemedebista, avalia-se no partido que o PT possa reivindicar a presidência no Senado, daqui a dois anos, cargo visado por Sarney, no entendimento de Temer e seu grupo.

Renan não quis comentar seu encontro com Lula. Limitou-se a dizer que propusera um encontro entre os chefes dos três poderes, para tratar de divergências que ocorrem entre eles. Na realidade, Renan disse a Lula que estava deixando a interlocução com o governo em nome do partido. Com isso, deixa o grupo da Câmara isolado, de vez que a interlocução de Temer com Lula nunca foi boa.

Os senadores julgam-se numa situação confortável. A bancada avalizou a manutenção dos dois ministros - Hélio Costa, das Comunicações, e Silas Rondeau, das Minas e Energia -, enquanto a Câmara tem direito a um (Saúde) e ainda tenta convencer Lula a dar um segundo ministério para os deputados. O preferido é o dos Transportes, para o qual Lula deve reconduzir o senador Alfredo Nascimento, seguido pelo da Integração Nacional, onde o deputado Ciro Gomes quer manter Pedro Brito. (RC e RU)