Título: Emprego tem forte alta no IBGE, mas dados do Caged são fracos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2012, Brasil, p. A2

Duas pesquisas divulgadas ontem - a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho - mostram que o emprego continua crescendo, mas divergem sobre o ritmo da criação de vagas. A pesquisa do IBGE indicou um forte aumento da ocupação em agosto e gerou, com isso, expectativas de que esteja em curso uma retomada forte da economia, especialmente porque dos 155 mil novos ocupados, 100 mil foram contratados pela indústria das seis regiões metropolitanas abrangidas pelas pesquisa. No Caged, o saldo surpreendeu pelo lado contrário: veio bem abaixo do esperado e, com isso, e "esfriou" as expectativas otimistas feitas pela manhã.

Os dois levantamentos - PME e Caged - usam metodologias muito distintas. A do IBGE é feita com base em pesquisas de rua com a população e envolve emprego formal, informal e por conta própria nas seis regiões metropolitanas pesquisadas. O Caged é um registro feito mensalmente pelas empresas no Ministério do Trabalho e, por isso, só envolve vagas formais, mas tem caráter nacional.

Segundo os dados do Caged, a economia brasileira criou 100,9 mil vagas com carteira assinada em agosto, resultado 47% inferior ao do mesmo mês do ano passado, quando foram gerados 190,4 mil postos de trabalho.

O resultado de agosto deste ano é o pior para o mês desde 2003, quando 79,7 mil empregos foram criados no mês. O saldo de agosto ficou abaixo da média das projeções apuradas pelo Valor Data, de 185,9 mil novas vagas no mês.

A taxa de desemprego de seis regiões metropolitanas do país ficou em 5,3% em agosto, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE. O órgão divulgou que, em junho, a taxa de desocupação ficou em 5,9% e, em julho, o índice apontou desemprego de 5,4% - os dois índices não haviam sido divulgados antes porque funcionários do órgão estavam em greve. A taxa de desemprego de agosto ficou abaixo da expectativa média de seis economistas consultados pelo Valor Data, de 5,6% da População Economicamente Ativa (PEA). O intervalo das projeções variou de 5,4% a 5,9%.

Os resultados da PME, do IBGE, mostram que as medidas de incentivo ao consumo lançadas pelo governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para determinados segmentos da indústria, estão ajudando a elevar a geração de empregos, diz gerente da coordenação de trabalho e rendimento do instituto, Cimar Azeredo. "O mercado de trabalho está aquecido, mas ainda é preciso mais tempo para verificar a intensidade desse aquecimento", pondera ele.

Pela PME, a indústria foi o setor que mais criou empregos em agosto - foram 100 mil no mês passado. Pelo Caged, a indústria gerou 16 mil novas vagas no mês passado. Para Caio Machado, economista da LCA Consultores, o comportamento da indústria durante o ano, quando houve recuo da produção, foi de segurar o nível do emprego. Agora, o aumento da produção será feito com a mão de obra que foi retida, por isso ele avalia que o resultado do Caged reflete melhor o comportamento do emprego no setor.

"Os empresários estão mais cautelosos neste ano. Eles preferiram manter a mão de obra e diminuir a produção, até porque ao demitir, além do custo, há dificuldade em encontrar depois mão de obra qualificada. Então o que vamos ver daqui para frente é um nível de emprego positivo, mas em um ritmo mais fraco", avalia Machado, da LCA.

O governo prevê um ritmo mais forte de contratações em setembro, mas espera que sejam abertas menos vagas que no mesmo mês do ano passado, quando o saldo foi positivo em 209 mil empregos, disse o secretário substituto de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, Rodolfo Torelly. Ele destacou que, apesar de a agricultura ter cortado 16,6 mil vagas em agosto, esse montante foi inferior ao do mesmo período do ano passado (19,5 mil desligamentos).

Pelos dados do Caged, a construção civil contratou em agosto 64,3% a menos que no mesmo período do ano passado, ao registrar criação de 11,2 mil vagas no período ante 31,6 mil em agosto do ano passado. A baixa na indústria de transformação foi de 54,2%. Em agosto do ano passado, foram 35,9 mil contratações, e neste ano o saldo positivo foi de 16,4 mil. Na atividade extrativa mineral, o recuo foi de 56,9%, caindo de 1,9 mil para 859 vagas formais. Apesar de ter sido o setor que mais contratou no mês (54,3 mil), o segmento de serviços registrou recuo de 42,4%, pois no mesmo mês de 2011 havia criado 94,4 mil postos de trabalho.

A abertura mais fraca de vagas no mercado de trabalho em agosto - 100.938 postos ante 142.496 ocupações em julho - é reflexo da produção da economia do segundo trimestre, de acordo com o Bradesco. Para o banco, tanto julho, que superou para cima as expectativas, quanto agosto, que veio abaixo do esperado pelo mercado, não estão ligados aos primeiros sinais de retomada que a economia brasileira vem dando no último mês.

Os dados de agosto do Caged representam "um ponto fora da curva", na avaliação do economista-chefe da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira. Os cálculos da TOV mostram que, se descontados os efeitos sazonais, a geração de empregos foi de 50,2 mil no mês passado, muito aquém das 95 mil vagas abertas em julho. "Desde fevereiro, vínhamos constatando uma desaceleração na geração de emprego, mas o resultado de agosto veio muito fora da trajetória prevista", diz Silveira.