Título: G-8 pressiona emergentes a aceitar metas para emissões
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Brasil, p. A5

A Alemanha quer criar um grupo coadjuvante de cinco emergentes, incluindo o Brasil, para participar de forma permanente dos encontros de cúpula do G-8, espécie de diretório econômico do planeta. A contrapartida para essa participação em bases regulares, em algumas sessões com as principais potências, será pressão adicional para assumir compromissos políticos em áreas como clima, patentes e investimentos estrangeiros.

A presidência alemã do G-8 convidou o Brasil, China, Índia, México e África do Sul para a reunião conjunta no dia 6 de junho na estação balneária de Heiligendamm, para começar um "diálogo permanente" como reconhecimento de novas forças na economia mundial.

"Mas não existe almoço grátis", alerta um especialista da cena política alemã, para sinalizar que os membros do G-8 - Alemanha, EUA, Japão, Canadá, Grã-Bretanha, França, Itália e Rússia - esperam comprometimentos firmes. A prioridade é levar os emergentes a aceitar a redução dos gases causadores do efeito-estuda: carbônico (queima de petróleo, gás natural, carvão), metano (padrões de alimentação animal, aterros de lixo) e óxido nitroso (uso de fertilizantes).

O G-8 quer ter, em junho, pelo menos as bases de um novo e radical compromisso obrigatório de redução dos gases. E isso implica o comprometimento do Brasil, China, Índia a assumir metas obrigatórias no futuro acordo. O Protocolo de Kyoto, que dura até 2012, obriga 35 países desenvolvidos a cortar as emissões de carbono em 5% abaixo dos níveis de 1990 nos próximos seis anos. Mas os industrializados reclamam que as nações signatárias representam apenas um terço das emissões globais.

A pressão do G-8 visa sobretudo a China, com suas termelétricas a carvão, e a Índia. O objetivo econômico é também claro: Alemanha e EUA têm interesse em vender tecnologias para reduzir emissões de carbono e equilibrar seus próprios custos com investimentos na área.

Para atenuar resistências dos emergentes, os alemães dizem confiar que também os EUA, responsáveis por um quarto das emissões globais, dessa vez possam se engajar. Os americanos nunca aceitaram o Protocolo de Kyoto. Recentemente, George W. Bush reconheceu o perigo das mudanças climáticas. Além disso, o G-8 quer gradualmente o engajamento dos emergentes na definição de normas mais estritas de proteção de patentes. É algo que o Brasil recusou na negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A pressão, porém, não cessa. A União Européia incluiu o Brasil numa lista negra, em outubro do ano passado, apontando violação "generalizada" de direitos de propriedade intelectual e de pirataria afetando "todos os tipos" de setores no país. O Brasil condicionou a cooperação na área com os europeus à retirada do país da lista.

Bernd Pfaffenbach, vice-ministro da Economia e a autoridade alemã responsável por organizar a cúpula em junho, já anunciou que o G-8 também quer discutir com os emergentes restrições a investimentos estrangeiros em várias áreas. A expectativa é que o G-8 aprove pela primeira vez recomendação específica contra "duplos regimes", onde investimentos de empresas estrangeiras são discriminados em relação a investimentos de grupos nacionais.

"A preocupação maior é com a China e a Índia", diz uma fonte próxima das discussões. "O Brasil não está na berlinda, mas será chamado a assinar embaixo." Pelo plano alemão, o "diálogo" no G-8 terá continuidade na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da qual o México é membro e os outros emergentes são observadores.

A Alemanha decidiu incluir ainda na agenda do G-8 com os emergentes uma questão sobre missão social das empresas. A idéia é examinar como melhorar o diálogo com os trabalhadores, também visando sobretudo China e Índia.

Nas vezes em que foi convidado a participar de algumas sessões do G-8, na França, Inglaterra e Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre colocou como prioridade a luta contra a pobreza. Agora, o governo alemão não está disposto a dividir o tema. Quer discutir a ajuda à África, por exemplo, só na reunião do próprio G-8. Mas avisou que Lula pode levantar a questão, se quiser, na reunião conjunta.

Hoje, em Essen, ministros de Finanças do G-8 se reúnem com representantes dos cinco emergentes. A Alemanha apresentará seu projeto sobre mercado de bônus nessas economias. "O objetivo é estimular esses países a fazerem emissões em suas próprias moedas, reduzirem dependência e estarem menos vulneráveis em casos de choques externos", disse o porta-voz do ministério alemão de Finanças.

Em março, haverá outras reuniões ministeriais sobre temas precisos (meio ambiente, cooperação etc). Todas elas servirão para formatar a declaração conjunta do G-8 e dos cinco emergentes em junho, com o "catálogo de intenções".