Título: PAC é insuficiente sem corte de gastos de 5,5% do PIB, avaliam empresários
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Brasil, p. A2

A indústria paulista acredita que o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, é tímido e não fará o Brasil crescer mais do que 3,9% neste ano. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) avalia que o governo não tocou em um ponto essencial: o corte de gastos correntes. Além disso, são necessárias reduções mais ousadas nos juros para que o Produto Interno Bruto (PIB) do país consiga crescer 4,9% já neste ano e chegue a 6% em 2008. Para isso, será preciso cortar cargos de comissão, desvincular o salário mínimo do piso previdenciário e gastar menos com pagamento de juros.

Os industriais querem níveis de juros e câmbio que sejam competitivos e próximos do resto do mundo. Para isso, é preciso que o governo federal realize um ajuste fiscal sério, que dê espaço no longo prazo para a redução da carga tributária e dos juros pagos pela dívida pública.

De acordo com um estudo realizado em parceria entre a Fiesp e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), há espaço para um corte de gastos equivalente a 5,55% do PIB. Isso seria conseguido com a redução de 2,7% do PIB no pagamento de juros, 0,2% com corte de cargos de comissão, 0,8% com a desvinculação da Previdência do reajuste do salário mínimo, 0,75% com uma nova gestão de ativos e outros 1,1% com outras despesas (renegociação e novos contratos, por exemplo).

Mas, para que os gastos com juros fossem reduzidos em 2,7% do PIB, o Banco Central teria que ser muito mais ousado e levar a taxa Selic para 9% até o fim do ano. O mercado, porém, prevê que ela não fique abaixo de 11,5%. "Esse último corte de apenas 0,25 ponto percentual nos surpreendeu negativamente e vai travar ainda mais a economia", diz Feres Abujamra, diretor-adjunto do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp.

Com juros menores, a entidade acredita que o câmbio poderia retornar a um nível bem mais alto: entre R$ 2,40 e R$ 2,50. Para Abujamra, o atual nível de câmbio é fruto muito mais da especulação em cima dos juros altos do que do forte fluxo de moeda estrangeira trazida pelo bom desempenho da balança comercial. "A balança também afeta o dólar, mas se a economia estivesse mais dinamizada, a diferença entre o desempenho das importações e das exportações seria menor e o real acabaria se desvalorizando", avalia.

Para reduzir o déficit da Previdência e os gastos com pessoal, a proposta da Fiesp é dura: desvincular as aposentadorias do reajuste concedido ao salário mínimo e não aumentar os rendimentos do funcionalismo nos próximos dois anos. No caso da Previdência, seria necessária também uma "reforma ampla", não detalhada no estudo.

Nos dois primeiros anos - já contando com 2007 -, o governo teria que apertar os cintos e fazer superávits primários maiores: 5,64% neste ano e 5,52% em 2008. A partir de 2009, com as contas já ajustadas, o primário poderia ser menor, de 3,67%, e cairia para 3,14% em 2010.

Se a proposta da Fiesp e do Iedi fosse adotada, as entidades calculam que em 2010 o crescimento do PIB chegaria a 7%. Em 2007, seria possível ficar perto do desejado pelo governo: 4,9%. "O PAC é uma iniciativa importante, mas é preciso reformar de verdade para crescer de forma sustentada", diz o diretor da Fiesp.