Título: Apelo personalista explica liderança
Autor: Casado, Letícia
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2012, Política, p. A7

O que mais chama a atenção na campanha eleitoral deste ano na capital paulista é o desempenho do candidato Celso Russomanno (PRB), líder das pesquisas de intenção de voto apesar de pertencer a um partido menor, com pouco tempo de propaganda eleitoral e sem histórico de candidaturas na cidade.

Visto como "independente" ou como "terceira via", Russomanno aparentemente ocupou espaço entre o eleitorado que não se interessa pelo debate político. Para este eleitor, a polarização entre PSDB e PT tornou-se cansativa e o debate protagonizado por esses partidos gera incômodo. Desta forma, o candidato que se apresentar como uma solução simples, personalista e desprovida de debate, leva vantagem em sua preferência.

A pesquisa do Datafolha divulgada ontem mostra que Russomanno alcança seu melhor desempenho nas áreas mais carentes da cidade, notadamente nas regiões do extremo leste e sul da capital. Nestas camadas, mais dependentes do poder público e com poucos meios para reivindicações, o candidato faz sucesso como "defensor do consumidor", uma imagem construída em seus programas de rádio e televisão nos quais o apresentador assume os problemas de pessoas simples e confronta os responsáveis em busca de uma solução rápida.

Mas a simbologia do candidato vai além da imagem de defensor. Russomanno representa o político que assume o comando da administração e toma as decisões necessárias, sem se importar em discutir as soluções com a sociedade. No passado, essa foi uma característica de prefeitos como Paulo Maluf e Jânio Quadros, reconhecidos pelo perfil de administradores firmes e personalistas.

É por isso que o sucesso de Russomanno não chega a surpreender. Há, entre os paulistanos, uma parcela considerável disposta a votar no candidato que tome para si as responsabilidades da gestão pública. Tal perfil agrada ao eleitor mais pobre, que tem dificuldades em conseguir acesso a serviços e atendimento a suas necessidades, e também ao que vê na administração pública a contrapartida ao pagamento de impostos. Este eleitor acredita que sua participação política se resume ao voto e à manutenção financeira da prefeitura, e prefere um candidato que lhe tire a preocupação de pensar nos rumos da cidade.

É possível que este comportamento do eleitor explique parte da dificuldade da campanha de Fernando Haddad (PT) em melhorar sua intenção de voto, pois Russomanno ganhou espaço justamente nas áreas onde o PT obtém, historicamente, seus melhores resultados. Além disso, Haddad representaria uma administração que pede mais participação dos cidadãos, em oposição à mensagem personalista de Russomanno.

A campanha petista assim como a de José Serra (PSDB) geram desconforto nos eleitores que não estão interessados em avaliar os problemas da cidade, mas querem apenas um prefeito que adote as soluções necessárias para melhorar a vida da população. A campanha de Russomanno parece ter percebido a oportunidade que se abriu para uma candidatura despolitizada e, ao mesmo tempo, neutralizou as propostas de seus adversários. O desafio que se impõe a Serra e Haddad, neste momento, é mudar a percepção dos eleitores a tempo de causar a reflexão sobre qual candidato tem mais condições de administrar a cidade. Uma reflexão saudável e necessária.

* Hilton Cesario Fernandes é mestre em ciência política pela USP e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo