Título: Aliados saem em defesa de Lula em nota conjunta
Autor: Junqueira,Caio
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2012, Política, p. A13

Liderados pelo PT e pelo PSB, os partidos da base aliada divulgaram ontem uma nota de repúdio à oposição por terem cobrado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma manifestação pública sobre a reportagem publicada pela revista "Veja" que o vincula diretamente ao escândalo do mensalão. A articulação acabou por resultar em uma reaproximação entre os dois partidos, cuja relação estremeceu em decorrência das disputas em algumas capitais.

A ideia surgiu no almoço de apoio ao candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), no domingo, do qual participaram, dentre outros, o presidente do PT, Rui Falcão; e os governadores da Bahia, Jaques Wagner (PT), de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), além de Lula, que desde o início apoiou a ideia.

Na quarta-feira à tarde, Falcão falou, por telefone, com Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, para dar seguimento à articulação. Combinaram que o PT conversaria com o PMDB e o PRB, enquanto o PSB ficaria responsável pelo PDT e PCdoB. Os contatos foram feitos e Falcão e Amaral redigiram o texto, que foi repassado aos demais signatários para aprovação. Outros partidos da base não foram procurados, de acordo com os envolvidos, "por falta de tempo", embora estejam "abertos a aderir".

Na nota, afirmam "repudiar de forma veemente a ação de dirigentes do PSDB, DEM e PPS que tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Lula". "Valendo-se de fantasiosa matéria veiculada pela revista "Veja", pretendem transformar em verdade o amontoado de invencionices colecionado a partir de fontes sem identificação", disse a nota.

Na reportagem, a revista afirma, dentre outras acusações, que o mensalão envolveu R$ 350 milhões, muito mais, portanto, do que os R$ 55 milhões apontados pelo Ministério Público Federal; que Lula era o chefe do esquema, junto com o então ministro da Casa Civil José Dirceu; e que o publicitário Marcos Valério de Souza se reuniu várias vezes com Lula no Palácio do Planalto. O texto atribui as informações a "parentes, amigos e associados" de Valério.

A nota divulgada ontem foi assinada por presidentes de seis partidos: Rui Falcão (PT), Eduardo Campos (PSB), Valdir Raupp (PMDB), Renato Rabelo (PCdoB), Carlos Lupi (PDT) e Marcos Pereira (PRB). Segundo ela, "as forças conservadoras revelam-se dispostas a qualquer aventura" e não hesitam em recorrer a práticas golpistas, à calúnia e à difamação, à denúncia sem prova".

Na sequência, dizem que "o gesto é fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro" e que "impotentes, tentam fazer política à margem do processo eleitoral". Comparam as acusações às que levaram o presidente Getúlio Vargas a se suicidar em 1954 e às que derrubaram o presidente João Goulart em 1964. E concluem dizendo que "os partidos da oposição tentam apenas confundir a opinião pública". "Quando pressionam a mais alta Corte do país, o STF, estão preocupados em fazer da ação penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula."

Após a divulgação, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, soltou um texto em nome do partido em que contesta o teor da nota: "Essa nota do governo não tem nada a ver com a nota dos partidos de oposição, mas sim com as pesquisas eleitorais que estão sendo divulgadas. A constatação é de que o PT não disputa mais a liderança das eleições deste ano, mas o segundo lugar. Não ouvi ninguém defender qualquer golpe ou procedimento heterodoxo. Nossa preocupação é outra: a legalidade e as urnas."