Título: Suggar substitui sua própria produção
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Brasil, p. A3

Setenta contêineres carregados de eletrodomésticos chegam da China, até o fim da semana, para a indústria Suggar. Na lista das mercadorias importadas estão ferros, liquidificadores, sanduicheiras, tostadeiras, coifas, exaustores, fornos, fogões, adegas climatizadas e máquinas de fazer gelo. Esta é apenas a primeira de uma série de entregas que serão feitas por 11 fábricas chinesas para a empresa mineira.

"Já devia ter partido para a importação há muito tempo", diz o presidente e fundador da Suggar, Lúcio Costa. O empresário conta que os produtos "made in China", com a marca Suggar, vão lhe custar entre 35% e 40% menos do que se fossem produzidos em Belo Horizonte, na sua unidade industrial. Em 28 anos de história, é a primeira vez que a Suggar vai substituir produção própria por importação da China. Segundo Costa, para sobreviver no mercado de eletrodomésticos não há outra alternativa. "Os concorrentes já estão fazendo, mesmo que não assumam."

Graças à negociação com os fabricantes chineses, iniciada há pouco mais de um ano, a Suggar entra no segmento dos eletroportáteis. Este é um nicho que a indústria mineira passa agora a disputar com uma linha totalmente importada da China. Neste primeiro momento, chegam os liquidificadores, os ferros e as sanduicheiras, em diferentes versões. Mas os contratos firmados com a Suggar prevêem ampliação do mix, com inclusão de produtos como secadores de cabelo e chapinhas.

A importação de itens que a Suggar até agora fabricava em Belo Horizonte - modelos de fogões para embutir, exaustores e coifas, entre outros - vão resultar em fechamento de várias linhas de produção na fábrica de Belo Horizonte e redução no quadro de funcionários, hoje de 850 pessoas. Mais de cem operários estão ligados a linhas que serão desativadas nos próximos dias. A empresa, porém, está tentando evitar parte das demissões, realocando os funcionários em áreas que vão passar por expansão como a de vendas e de atendimento a clientes.

"Esse é um negócio preocupante, preferia estar garantindo empregos no Brasil e não na China", diz Lúcio Costa. "Mas, em alguns casos, não dá para produzir aqui e ser competitivo." A expectativa da Suggar é de, graças à importação de eletrodomésticos da China, incrementar em 15% o faturamento da empresa, que neste ano estava previsto para ficar em torno de R$ 250 milhões.

Exemplos como o da Suggar ajudam a explicar o crescimento da importação de manufaturados da China na balança comercial mineira. Pela primeira vez, o resultado é negativo para o Estado. Nos oito primeiros meses deste ano, as importações de manufaturados chineses somaram US$ 170 milhões superando o valor registrado em todo o ano passado, que foi de US$ 126 milhões. Até agosto, as exportações de manufaturados de Minas Gerais para o país asiático não chegaram a US$ 62 milhões.

O fundador da Suggar avalia hoje que foi "burrice" e "vaidade" ter resistido aos produtos chineses. "O produto já foi ruim e não é mais." Foi o diretor administrativo da Suggar, e seu filho, Leandro Costa, quem o convenceu a partir para a China. Leandro passou um mês visitando as indústrias depois de meses de negociações por telefone e e-mail. Voltou impressionado com o que viu. A fábrica que produzirá os fornos para a Suggar tem cerca de 25 mil funcionários. "Não dá para competir com uma produção numa escala dessas", resume o fundador da Suggar.

Costa diz que a importação de produtos da China para substituir produção local é uma tendência irreversível. O cenário só mudaria, avalia, com uma profunda reforma tributária para desonerar a produção. Mas, sobre isso, ele é pessimista. Tem pouquíssimas esperanças de que venha a ocorrer.

Ex-representante comercial de fabricantes de eletrodomésticos, Lúcio Costa resolveu apostar na produção de exaustores em 1978. O sucesso do produto garantiu fama nacional para sua marca, que virou sinônimo de exaustor. A empresa é até hoje líder de mercado nesse segmento, que é disputado também por outros 13 fabricantes. Mas são as lavadoras de roupas, tipo tanquinho, que garantem a maior parte do faturamento da indústria, cerca de 38%.

Lúcio Costa orgulha-se de ser um dos poucos fabricantes de eletrodomésticos que sobreviveram no mercado com capital 100% nacional. Os seus maiores concorrentes, como Consul, Brastemp, Semer, Prosdócimo e Dako, foram comprados por grupos multinacionais. A Suggar chegou a negociar uma associação com a italiana Elica, mas o negócio não prosperou. Hoje a indústria mineira move uma ação indenizatória contra a indústria multinacional.

O dono da Suggar diz que não tem mais ilusões sobre associações e pretende continuar caminhando com as próprias pernas. Como bom "empresário-vendedor", vai se manter no mercado aproveitando as boas oportunidades. Hoje, elas estão na China.