Título: Grampeados jogam culpa nos estados
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 18/11/2010, Política, p. 3

Líderes que tiveram as conversas vazadas atribuem aos governadores a razão do atraso na votação de reajustes polêmicos, como a PEC 300 e o mínimo

Horas depois de o áudio com as conversas travadas por líderes ter vazado para a imprensa, a maioria dos ¿grampeados¿ decidiu pôr água na fervura e jogou para os governadores a responsabilidade pela demora na votação dos projetos polêmicos. Os parlamentares reclamaram dos chefes dos executivos estaduais, que não estariam assumindo a pressão pelo engavetamento da PEC 300. O governo federal ainda justificou a negociação inflexível travada pelo aumento do mínimo por conta das crises econômicas enfrentadas por diversos países e que podem gerar reflexos no país já no ano que vem.

Para oposicionistas, o vazamento da conversa entre os líderes acabou sendo providencial para o próprio Palácio do Planalto, já que boa parte da pressão pela aprovação dos projetos hoje engavetados acabou sendo transferida para os titulares dos governos estaduais. Autor da maior parte das falas polêmicas, o deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP), que é da bancada governista, confirmou que há uma ameaça de os policiais e bombeiros militares cruzarem os braços a partir de janeiro, caso o projeto que institui o piso salarial da categoria não seja aprovado até o fim do ano.

De acordo com Paulinho, a maior pressão para que a proposta seja engavetada parte dos governadores, que teriam de custear os aumentos. Os mandatários estaduais, no entanto, estariam evitando assumir o ônus político de serem contrários à medida. O próprio líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), indicou que o entrave primordial para a aprovação da PEC 300 não é o governo federal. ¿Acho legítimas as manifestações dos policiais e bombeiros, mas temos de levar a questão aos governadores. São eles que vão pagar essa conta. Um piso de R$ 3,5 mil, como eles pleiteiam, significaria um rombo de R$ 40 bilhões¿, aponta Vaccarezza.

Menos Presidente da frente parlamentar em defesa das categorias, o deputado federal Capitão Assumção (PSB-ES) garantiu que não há a intenção de promover uma greve geral dos policiais e bombeiros ¿ até porque a Constituição não permite a manifestação. ¿Estamos nos preparando para uma grande marcha a Brasília nos dias 23 e 24 da semana que vem. Só isso¿, garante Assumção.

Nos bastidores, outros representantes das categorias policiais admitem que há chance de operações-padrão serem deflagradas nos estados, com os policiais e bombeiros diminuindo o ritmo das atividades, das ações ostensivas e das blitzes. A única categoria com logística e permissão legal de organizar greve nacional seria a dos policiais civis.

Com relação ao salário mínimo, outro tema vazado durante a reunião do Conselho Político, os deputados disseram que repetiram o que já vêm declarando. De um lado, o governo quer um valor de até R$ 550, mas representantes de entidades sindicais pretendem esticar a cifra até R$ 580. ¿A luta é justa. Queríamos chegar a R$ 2 mil (de salário mínimo), mas é uma coisa que não pode ser feita de uma hora para outra. Fizemos um acordo para promover um aumento efetivo e gradual até 2023¿, defendeu Vaccarezza.