Título: Aécio vê fragilidade em um 2º mandato de Lula
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Política, p. A6

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), afirmou ontem que, se reeleito o presidente Lula (PT), o governo poderá se "fragilizar" e "ter problemas" caso as denúncias em curso não sejam esclarecidas antes do pleito do dia 29. "Eu tenho uma grande preocupação: a de que, ao empurrar os esclarecimentos desses episódios, ao impedir que as pessoas votem sabendo efetivamente de onde vieram esses recursos (da tentativa de compra do dossiê), quais os responsáveis por eles, o governo pode vir a ter problemas lá adiante."

Aécio disse que foi também esse o sentido da declaração dada pelo presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ontem, quando ele disse que, se Lula for reeleito, o "governo acaba antes de começar". "O que o Geraldo quis dizer é que um governo que disputa um mandato sem esclarecer à população denúncias extremamente graves corre o risco de esclarecê-las logo em seguida, e aí pode se fragilizar."

Por causa da declaração de Alckmin, o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) chamou o tucano de ditador, dizendo que ele "mostra o seu lado Pinochet (general Augusto Pinochet, que presidiu o Chile de 1973-90)".

Aécio disse ter sido "equivocada" e "sem nenhum sentido" a declaração do "mais importante porta-voz" do governo. "Me preocupa muito quando ele diz - e olha que é meu amigo - que no Brasil está exaurido o debate da ética. Ele dá uma péssima sinalização para as atuais e futuras gerações. Em nenhuma sociedade, em nenhum tempo, o debate da ética pode estar exaurido. Ele deve permear os outros debates, deve ser a base da construção de uma sociedade democrática", disse Aécio.

"As grandes lideranças do país, com a responsabilidade que têm, não podem fixar os seus olhos apenas nas eleições, esquecendo os exemplos que dão, sobretudo na hora do embate. Os exemplos são mais importantes. Eu quero aqui, de público, deixar uma palavra de lamento por essa declaração, para que sirva de alerta a outras (declarações) que venham na mesma direção."