Título: Aumenta disputa pelo comando da economia
Autor: Romero, Cristiano e Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Política, p. A7

Acentuou-se no governo e no PT a disputa pelo comando da economia no segundo mandato. Com as pesquisas de opinião mostrando, neste momento, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será reeleito no próximo dia 29, está declarada a guerra. Para o comando do Ministério da Fazenda despontam dois nomes: o do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. O grupo contrário à permanência da atual diretoria do Banco Central também está atuante, mas o presidente da instituição, Henrique Meirelles, tem chance de ficar se substituir alguns diretores.

Fernando Pimentel, um nome esperado e aprovado pelos mercados, tem o apoio de amplo espectro do PT, incluindo o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, ainda hoje um conselheiro influente do presidente Lula. Economista com formação sólida, é uma estrela em ascensão no PT. Prefeito há seis anos, Pimentel, avalia-se no governo, poderia deixar a prefeitura de Belo Horizonte sem sofrer prejuízo político - faltam dois anos para ele concluir o segundo mandato.

Durante a campanha presidencial, o prefeito mineiro tornou-se um dos principais conselheiros do presidente. Pelo menos uma vez por semana, viaja a Brasília para conversar com Lula. Foi o primeiro nome a ser chamado para o lugar do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) na coordenação da campanha presidencial. Além da formação econômica, Pimentel, segundo ministros e assessores de Lula ouvidos pelo Valor, teria a vantagem de ser um político moderado e de possuir trânsito na oposição, o que, na avaliação dos governistas, facilitará o diálogo com o Congresso. Em Minas Gerais, ele cultivou ótimas relações com o governador Aécio Neves, do PSDB.

No que diz respeito à economia, o prefeito de Belo Horizonte é visto como um verdadeiro sucessor de Palocci. Assim como o ex-ministro, hoje deputado eleito pelo PT de São Paulo, Pimentel defende a austeridade fiscal e o respeito aos contratos. Além disso, tem, segundo um auxiliar de Lula, o "perfil reformador" de que o governo precisa para aprovar, nos próximos anos, uma agenda legislativa considerada difícil - além da prorrogação da CPMF e da DRU em 2007, o Palácio do Planalto planeja mudar, mais uma vez, as regras de aposentadoria do INSS.

José Sérgio Gabrielli tem o importante apoio da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, para assumir a Fazenda. É apoiado também pelo governador eleito da Bahia, Jacques Wagner, em alta com Lula desde que conquistou um Estado importante para o PT, além de derrotar o carlismo. Gabrielli é outro quadro do PT que se tornou muito próximo de Lula após a débâcle dos ministros José Dirceu e Antonio Palocci. Embora seja visto como alguém que está à esquerda de Pimentel, também é identificado com os preceitos da gestão de Palocci no Ministério da Fazenda.

O presidente da Petrobras também tem uma sólida formação em Economia. É formado e mestre pela Universidade Federal da Bahia. Tem Ph.D. pela americana Boston University, uma prestigiosa escola do pensamento econômico dos Estados Unidos. Além disso, já atuou como pesquisador visitante na London School of Economics.

São reduzidas as chances de permanência de Guido Mantega na Fazenda. Lula o considera leal e costuma lhe entregar missões espinhosas - em quatro anos de mandato, ele ocupou três cargos importantes no governo: foi ministro do Planejamento e da Fazenda e presidente do BNDES. O problema é que, para o segundo mandato, Lula pretende ter um nome mais forte para o cargo.

Lula acha que Mantega, ao contrário de Palocci, não se comunica bem, segundo contaram ao Valor fontes do PT. Além disso, auxiliares do presidente mencionam que Mantega se desgastou nas últimas semanas ao se expor "excessivamente" na mídia, participando de embates públicos, típicos da campanha eleitoral.

"Um dia, ele dá uma entrevista e diz que o governo não fará reforma da Previdência. No dia seguinte, o presidente o desmente, dizendo que vai ter", citou um colaborador de Lula. Se deixar a Fazenda, Mantega será contemplado com um novo cargo, mas não necessariamente um ministério.

Um consenso já existente dentro do governo é o de que, no segundo mandato do governo Lula, a diretoria do Banco Central será substituída e a política monetária, flexibilizada. Segundo um ministro próximo de Lula, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, concorda com a troca de diretores. Por isso, ele voltou a ter chances de permanecer no posto, embora um grupo de assessores e petistas defenda sua saída. "Ele topa fazer o jogo da mudança. Não precisa ser nada abrupto. O mercado sabe que, quando muda o governo, isso acontece", comentou o ministro.

Na avaliação desse grupo, uma vez que os juros já estão em queda e que, possivelmente, em dezembro do próximo ano o juro real (descontada a inflação) estará em torno de 5% ao ano (hoje, a taxa Selic é de 9,3%), a troca de nomes no Banco Central é até mais importante do que uma mudança de rumo na política monetária. A mudança na diretoria teria um valor simbólico, segundo se avalia em Brasília, inclusive para ajudar o presidente Lula a governar o país, num momento em que há feridas da disputa política para curar.

A disputa pelo comando da equipe econômica é acirrada. Um elemento dessa briga é o suposto contrato que Meirelles teria assinado com os diretores do Banco Central, assegurando-lhes uma independência que não está prevista nas leis do país. Lula só teria ficado sabendo do tal contrato após a saída de Palocci do governo. Assessores do BC negam com veemência a existência desse contrato e atribuem a informação a um jogo de intriga para inviabilizar a permanência de Meirelles no governo.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, permanecerá no governo, mas pode trocar de posto. As mudanças em discussão no PT e no governo incluiriam ainda as presidências do BNDES e da Caixa Econômica Federal. Segundo um ministro próximo, Lula teme a "mesmice" e quer um governo renovado a partir de 2007.