Título: Tucano defende déficit nominal zero em até seis anos
Autor: Ferreira, Jorge e Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Política, p. A8

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, reabilitou o economista Yoshiaki Nakano, que havia sido desautorizado por ele ao expor suas idéias sobre o déficit nominal zero. "Eu estou plenamente de acordo com o professor Nakano. Nós vamos alcançar o déficit nominal zero. Se a gente vai fazer isso em quatro ou seis anos, é uma questão de gestão", disse o tucano durante a sabatina da 'Folha de São Paulo'.

Nakano, que é um dos principais formuladores de seu programa de governo provocou polêmicas na campanha ao ressaltar a necessidade de gastos para o equilíbrio das contas públicas no país.

Alckmin acusou seu adversário de não ter preocupação em cortar gastos públicos e que, por isso, ele terá de aumentar impostos num eventual segundo mandato. O tucano usou como exemplo a compra do avião usado para viagens presidenciais - o Aerolula -, que simbolizaria a "gastança" do governo.

"Nós precisamos criar uma cultura de eficiência do gasto público. O problema do Aerolula é que passa para o resto do governo que não tem problema com gastança", afirmou o candidato.

Alckmin disse que, se eleito, uma de suas primeiras medidas seria enviar ao Congresso uma emenda à Constituição para acabar com o mecanismo da reeleição para cargos majoritários..

Alckmin disse que se for eleito vai encaminhar em janeiro duas reformas ao Congresso Nacional: a tributária e a política, que incluiria a emenda contra a reeleição.

O candidato, no entanto, indicou que o fim da regra da reeleição somente valeria para as eleições após 2010. "É óbvio que você não pode mudar a regra depois de feita. Eu não posso tirar o direito dos governadores. Eles foram eleitos em uma regra", explicou Alckmin.

"A reeleição causa uma enorme disparidade na disputa", criticou o candidato tucano. "Ainda mais no caso de um governo que não tem limites na questão da utilização de máquina pública", afirmou. "Você vê que os ministros do governo Lula são só cabos eleitorais. Acho que esse pessoal não faz outra coisa", acrescentou.

Alckmin também procurou evitar polêmica com a possível sucessão em 2010, já que há dois outros presidenciáveis em seu partido: os governadores eleitos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). "Eu vou trabalhar rapidamente para a gente acabar com a reeleição. O meu compromisso é quatro anos e um bom governo", garantiu ele.

O candidato do PSDB procurou minimizar a estratégia do PT de divulgar para os eleitores que os tucanos privatizariam estatais como a Petrobras e o Banco do Brasil caso voltem ao poder. Para Alckmin, esse discurso é mentiroso e não deve afetar o resultado da eleição.

Questionado sobre sua posição "filosófica" em relação ao tema, Geraldo Alckmin respondeu que privatizar o Banco do Brasil e a Petrobras não seria sua prioridade. Disse, ainda, que o setor financeiro "não é suscetível de privatização".

O candidato afirmou ver "oportunismo" nos elogios do presidente Lula ao governador eleito de São Paulo, José Serra. "Isso aí é mais velho que a carochinha. Se o candidato à Presidência da República fosse o Serra, e eu não fosse candidato a nada, ele estaria se derramando de amores por mim. Isso é oportunismo", afirmou Alckmin.

O ex-governador de São Paulo disse, também, que o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) deveria ter saído do partido após o escândalo do mensalão, quando foi acusado de envolvimento com o empresário Marcos Valério. "Ele próprio deveria ter saído", afirmou Alckmin, depois de muita relutância e tentativas de se desviar da questão.

O candidato do PSDB minimizou os resultados das pesquisas de intenção de voto. Levantamento do Datafolha, divulgado nesta semana, mostrou Alckmin 19 pontos atrás do presidente Lula e a vantagem aumenta para 20 pontos percentuais se considerados apenas os votos válidos.

"O que eu estou colocando é o seguinte: a eleição não está definida. A pesquisa de ontem é diferente da pesquisa de hoje, que vai ser diferente da de amanhã", disse o tucano.

O candidato admitiu, entretanto, que as pesquisas desfavoráveis afetam a percepção de sua candidatura. Segundo ele, esses resultados são captados nas sondagens internas do PSDB, pois "quando sai uma pesquisa ruim no Jornal Nacional, no outro dia os resultados (das sondagens) são ruins".