Título: Para Lacerda, 'pequena parte' do dinheiro do dossiê é do jogo
Autor: Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Política, p. A9

O delegado-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, confirmou ontem que existem indícios de que pelo menos R$ 5 mil do R$ 1,7 milhão usado por um grupo de petistas na compra do dossiê contra tucanos veio do jogo do bicho. "É certo que pelo menos uma pequena parte veio do bicho. Estamos próximos de desvendar toda a origem do dinheiro", disse Lacerda. Mais cauteloso, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou que ainda não há como determinar com precisão se o dinheiro teria vindo de uma das bancas de jogo do bicheiro Antonio Kalil, o Turcão, uma vez que a PF segue várias linhas de investigação.

"Não confirmo. Pode ser que seja, pode ser que não seja. Essa é uma linha de investigação. O importante é não fazer disso moeda eleitoral", disse Bastos. Lacerda informou que o relatório das investigações da PF será entregue ao juiz Jefferson Schneider, da 2ª Vara da Justiça Federal, no início da próxima semana. A expectativa do delegado é de que as apurações terminem antes mesmo do segundo turno das eleições.

"Estamos nesse objetivo (descobrir a origem do dinheiro antes do pleito) e acredito que vamos conseguir. Estou otimista", disse Lacerda, depois de participar, no Tijuca Tênis Clube, na zona norte do Rio, de uma aula inaugural com cerca de quatro mil jovens que fazem parte da segunda turma de guias cívicos que vão trabalhar como voluntários dos Jogos Pan-Americanos.

Também presente ao evento, o ministro da Justiça respondeu às críticas da oposição, de que a apuração do dossiê contra tucanos está sendo demorada. "É uma frase absolutamente destituída de sentido. A apuração está sendo feita rapidamente. Isso acontece há 30 dias e já se descobriu toda a cadeia causal", disse Bastos, ressaltando que a Polícia Federal já está chegando perto de desvendar a origem dos recursos.

"Como ninguém confessou tem que ir pela prova técnica e a Polícia Federal está chegando perto disso. Agora, existe um tempo para uma investigação séria e existe um tempo eleitoral. Não se pode esperar demais da natureza humana e achar que certos políticos da oposição queiram se comportar de uma maneira objetiva e republicana numa eleição como esta, que está chegando em sua última semana".

A pedido da Polícia Federal do Mato Grosso, o superintendente da PF no Rio, delegado Delci Teixeira, fez uma operação de busca no Estado na terça-feira para tentar comprovar se o dinheiro realmente tem ligação com o jogo do bicho. Os policiais buscavam o carimbo utilizado para marcar as cintas de papel que envolviam alguns maços de notas de reais apreendidas com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Segundo Teixeira, o local da busca estava praticamente vazio. "O objetivo da busca foi o carimbo, que não foi encontrado", disse. A PF conseguiu apreender apenas duas calculadoras com bobinas, que já foram enviadas para Cuiabá. A PF quer saber se as cintas de papel partiram dessas duas máquinas.

Bastos também rebateu as críticas de que atuaria como advogado do governo no escândalo do dossiê contra os tucanos e disse que as ações da oposição se devem ao calor do momento eleitoral. "São fantasias. Ninguém aponta nenhum fato, ato, atitude e posição que eu tenha tomado que indique isso. Sou ministro da Justiça do governo Lula. Tenho lealdade absoluta às instituições brasileiras e ao presidente da República. Sou ministro da Justiça, não sou político". (Colaborou Ana Paula Grabois, do Valor Online)