Título: Economista teme desaceleração econômica da região
Autor: Camarotto, Murillo
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2012, Brasil, p. A4

A letargia na execução dos grandes investimentos é parte de um cenário preocupante para o Nordeste, desenhado pela economista da Universidade Federal de Pernambuco Tânia Bacelar. Ela avalia que o modelo de crescimento baseado no consumo das famílias, principal motor do salto na economia nordestina nos últimos anos, deve perder peso relativo no médio prazo, diante de uma tendência de intensificação dos investimentos no país. Nesse ínterim, Tânia vê crescer o risco de retomada do processo de concentração de riqueza no Sul e Sudeste, que havia sido estancado.

Ela menciona, como exemplo, o debate sobre as dificuldades do processo de industrialização do país, que acabou dando origem a medidas governamentais de incentivo, como o Plano Brasil Maior. "Acontece que o mais ameaçado é o parque industrial, produtor de bens de maior valor agregado e maior conteúdo tecnológico. E ele está fortemente concentrado no Sudeste/Sul, tanto que o Brasil Maior deixa o Nordeste à margem das medidas principais", diz a economista.

É na cadeia produtiva do petróleo e gás que Tânia percebe o maior risco para o Nordeste. Na sua avaliação, deve haver esforço político e empresarial para que parte dos fornecedores de equipamentos se desloque para a região, a fim de evitar a concentração, no Sul, de investimentos e, consequentemente, de desenvolvimento econômico.

"O Brasil tem, no novo momento da política do setor de petróleo e gás, uma cunha no modesto movimento de desconcentração industrial que beneficiava o Nordeste. Nesse contexto, três refinarias é muito pouco", avalia a economista, referindo-se às unidades projetadas para Pernambuco, Maranhão e Ceará.

No ano passado, o governo de Pernambuco esteve perto de atrair uma fábrica da Volkswagen, porém o investimento acabou indo para Taubaté (SP). Os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) e da Bahia, Jaques Wagner (PT) entregaram à presidente Dilma um pedido oficial de benefícios fiscais para a expansão da indústria automobilística no Nordeste. Até agora, não foram atendidos.

Segundo Tânia Bacelar, esse é outro exemplo de medida que poderia evitar a retomada da concentração da base produtiva nacional. "Se a decisão de localização for entregue apenas ao mercado, a concentração espacial dos novos investimentos será inevitável", diz. "A região continua exibindo hiato inaceitável: tem quase 28% da população do Brasil e gera pouco mais que 13% do Produto Interno Bruto (PIB). Não há outro exemplo na nação de hiato tão gritante."