Título: Vice-ministro boliviano defende 'controle social'
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Internacional, p. A11

Defender a coca e combater a cocaína. Essa tem sido a tônica da política boliviana em relação ao cultivo da planta mais tradicional do país. Não é tarefa fácil. O governo do presidente Evo Morales enfrenta pressões dos EUA para ampliar a erradicação de plantios ilegais e pressões de cocaleiros para permitir a ampliação das áreas.

Na região de Vandiola, por exemplo, cocaleiros bloqueiam uma estrada para exigir que cada um dos sindicalizados possam cultivar três catos (um cato equivale a área de 40 x 40 metros) de coca.

Por outro lado, Washington ameaça cortar US$ 100 milhões em ajuda à Bolívia caso o governo não intensifique as erradicações. Em um discurso na Assembléia Geral da ONU em setembro, Morales, com folha de coca em punho, acusou os EUA de estarem cometendo uma "injustiça histórica" ao criminalizar a planta.

Em entrevista por telefone ao Valor, o vice-ministro da Coca e do Desenvolvimento Integral, Félix Barra, negou que seu governo esteja permitindo um aumento dos cultivos. "Há um redução porque há um consenso com os produtores de coca e eles se comprometem para que não haja expansões nos cultivo", afirmou o ministro, ao ser perguntado sobre os efeitos da erradicação voluntária.

"Estamos demonstrando que o diálogo é a melhor forma de se tratar essa questão", disse. O governo defende o que chama de "controle social" da coca feito pelos próprios cocaleiros sindicalizados, para tentar evitar a expansão do cultivo em áreas não tradicionais do país nas quais o plantio é permitido.

Sobre a produção de cocaína e sobre narcotráfico, Barra adverte: "Há que se ter claro que toda a droga encontrada em Bolívia não é produzida 100% no país. É um droga que está em trânsito, é uma droga peruana que está indo para outros mercados". Segundo ele, a polícia tem tido êxito em realização de apreensões da droga e de prisões de narcotraficantes.

O governo estimula o uso da coca para produção de artigos alternativos. Entre os projetos que têm apoio oficial estão os de produção de mates, licores de coca, de empresas que estão elaborando farinha de coca muitos outros produtos, como pastas dentais e xampus. São planos de longo prazo, reconhece o ministro. A questão é que até que os produtos alternativos da coca prosperem, a maior demanda pela folha continuará sendo a da indústria da droga. (MMS)