Título: Kirchner sugere que Argentina vai investir na Bolívia
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Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Internacional, p. A11

O presidente argentino, Néstor Kirchner, assinou ontem um acordo para importar o equivalente a US$ 17 bilhões em gás natural da Bolívia pelos próximos 20 anos e prometeu que seu país oferecerá ajuda caso as empresas desistam de apostar no vizinho andino por causa da nacionalização dos hidrocarbonetos.

Na cerimônia, o presidente Evo Morales mencionou a negociação com o Brasil, dizendo que a Bolívia precisa do Brasil e vice-versa. E prometeu que não faltará gás boliviano ao país.

Kirchner e Morales definiram o acordo como parte de uma estratégia para promover maior integração latino-americana.

A Argentina conta com o gás boliviano para superar sua escassez de combustível. No entanto, a capacidade da Bolívia de cumprir o novo acordo foi colocada em xeque depois que Morales anunciou a nacionalizaçaõ. A decisão assustou as empresas que operam no país, o que criou dúvidas sobre se a Bolívia terá infra-estrutura necessária para elevar a sua produção.

"Se alguns espertinhos [pícaros, em espanhol] não fizerem os investimentos que têm de fazer, não tenham dúvida que a Argentina ajudará nos investimentos correspondentes", disse Kichner na cerimônia de assinatura, em Santa Cruz, na Bolívia.

A YPFB, estatal boliviana, disse que precisará de US$ 800 milhões de investimento estrangeiro em três anos para atender aos contratos com Brasil e Argentina. O mercado estima que o investimento necessário é bem maior.

Pelos termos do contrato, a Bolívia fornecerá até 27,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia para à Argentina - quase três vezes a quantidade atual. Os argentinos pagarão US$ 5 por milhão de BTU no primeiro trimestre de 2007 (33% acima do preço atual). Depois disso, o preço acompanhará as flutuações do mercado.

Morales agradeceu à manifesta disposição de Kirchner - a quem tratou por irmão - em investir na infraestrutura da Bolívia.

O presidente boliviano disse que a tentativa da Bolívia de usar melhor seus recursos naturais passa pelas negociações com o Brasil. "Necessitamos deles, como também eles necessitam de nós."

Segundo ele, a Bolívia tem a obrigação de conviver com o Brasil e da Argentina, por causa de seus povos, e resolver conjuntamente os problemas. "Como um casamento sem divórcio, porque precisamos uns dos outros", comparou.

Morales foi adiante, usando sempre um tom informal e amistoso. "Queremos dizer ao companheiro Lula, à República irmã do Brasil: jamais a esse povo vai faltar gás. É importante a participação da sua empresa Petrobras, assim como de suas empresas estatais".

Ele defendeu que as estatais de energia Enarsa (Argentina), YPFB (Bolívia) e Petrobras usem seus recursos naturais para servir aos povos e lembrou que nesse esforço contam com outro aliado, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e a petroleira PDVSA.