Título: Nestlé quer crescer no segmento de água mineral
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Empresas, p. B1

A Nestlé está "satisfeita" com os resultados de seus negócios no Brasil nos nove primeiros meses do ano e mantém o otimismo, indiferente de quem ganhar a eleição presidencial no próximo dia 29.

Peter Brabeck, presidente executivo da companhia, acredita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido um "presidente tradicionalista", notando que ele "surpreendeu", e não espera mudanças na política econômica em caso de reeleição.

Se o vitorioso for Geraldo Alckmin, o executivo tampouco acredita que o novo governo se afastará da atual orientação econômica. "O desenvolvimento (dos negócios do grupo) no Brasil reflete o desempenho da economia", disse o porta-voz François Perroud.

A Nestlé reafirmou que está preparada para uma aquisição no Brasil no setor de água mineral, a exemplo do que acabou de fazer na Turquia. "Se uma boa oportunidade se apresentar no Brasil, vamos examina-la rapidamente", afirmou o porta-voz.

O mercado brasileiro de água teve um boom nos últimos dez anos. Saiu de 1 bilhão de litros em 1995 e deve alcançar a marca dos 6 bilhões este ano. O segmento no país é muito fragmentado e empresas de grande porte, como Nestlé, Coca-Cola e AmBev, possuem apenas cerca de 1% cada uma.

A primeira experiência da gigante suíça no segmento de água não foi boa. Começou com a venda da marca Pure Life - água captada em poço que passava por um processo de purificação e era acrescida de sais minerais. Mas o produto durou pouco tempo. Além de não ter caído no gosto do brasileiro por ser considerada muito pesada, a multinacional enfrentou uma briga de três anos com um grupo de ambientalistas e moradores da região mineira de São Lourenço (onde estava o poço), que apontavam irregularidades no modo de captação e comercialização.

Em 2005, a Nestlé lançou a água mineral Aquarel e agora, apesar de um extenso portfólio - Nestlé Aquarel, Petrópolis, São Lourenço e a francesa Perrier (importada) -, tem uma participação no mercado brasileiro total de aproximadamente 1,5%.

O tom otimista de Brabeck sobre o Brasil e os emergentes muda quando se referi aos Estados Unidos e Europa Ocidental, o que acabou provocando queda no valor da ação da empresa ontem.

Em entrevista coletiva de apresentação dos resultados do terceiro trimestre, o executivo admitiu desaceleração nas vendas em 2007 por causa de menor gasto com consumo se confirmada a desaceleração das economias dos Estados Unidos, seu maior mercado, e da Alemanha. "Temos de ser realistas", afirmou, alertando que a projeção para 2007 "está na ponta mais baixa de nossa meta" de crescimento de 5% a 6% excluindo efeitos de aquisições e de cambio.

Entre janeiro-setembro, as vendas globais aumentaram 6,1%. O faturamento somou 72,2 bilhões de francos suíços (US$ 57,1 bilhões), liderados pela divisão de alimentos e bebidas. No trimestre, as vendas foram de 25,1 bilhões de francos suíços (US$ 19,7 bilhões), abaixo de estimativas de analistas.

O valor da ação, que tinha batido recorde na semana passada, caiu 3,9% ontem, sendo negociada a 420,5 francos em Zurique. A Nestlé tem um valor de mercado de 170 bilhões de francos suíços.

A empresa suíça continuou a enfrentar a volatilidade dos preços de matérias-primas e da energia, mas na América Latina a taxa de crescimento orgânico (sem aquisição e efeito do cambio) de 6,5% superou "confortavelmente" a média geral do grupo.

Brabeck destacou a importância dos emergentes nos negócios da multinacional, que agora representam 25% do faturamento comparado a 21%, em 2003. Na outra direção, a fatia da Europa ocidental caiu de 27% para 21%.

Nestlé gastou mais de US$ 17 bilhões em aquisições entre 2000 e 2003 para aumentar as vendas nos EUA, ao mesmo tempo em que os negócios na Europa declinavam. Este ano, a empresa introduziu água com sabor e novas variedades de café instantâneo na Ásia.

Brabeck insistiu na mudança de enfoque estratégico para os segmentos de saúde, nutrição e produtos "premium" e continuará fazendo aquisições nessas áreas. Já a redução de investimento em outras áreas alcançou 12 bilhões de francos nos últimos dez anos, sendo 3 bilhões somente este ano.

Paul Pomlan, o diretor financeiro da Nestlé, destacou que mesmo crescendo pouco, a companhia aumentou as vendas em 6 bilhões de francos suíços este ano, segundo ele bem a frente dos concorrentes.

A Nestlé no Brasil informou, através de sua assessoria, que desconhece até o momento qualquer interesse na aquisição de uma companhia de água mineral. (Colaborou Daniela D'Ambrosio, de São Paulo)