Título: Vale recebe aprovação final para a Inco
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Empresas, p. B6

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) venceu o último entrave legal para aquisição da mineradora canadense Inco. Ontem, a empresa anunciou que obteve a aprovação necessária do governo do Canadá, de acordo com o Investment Canada Act, para efetuar a compra de totalidade das ações da produtora de níquel, no valor de US$ 17,7 bilhões à vista.

Agora, a Vale vai ficar na expectativa do movimento de adesão à sua oferta por partes dos acionistas da Inco, cujo prazo final vence às 24 horas do dia 23 (horário de Toronto). Até agora, 20% dos acionistas já aderiram a proposta da brasileira, de 86 dólares canadenses por ação. Ontem, a ação da Inco foi cotada em Toronto a 85,58 dólares canadenses. A aquisição se viabiliza com a adesão do equivalente a 66% do capital. A Inco possui 225 milhões de ações.

O presidente da Vale, Roger Agnelli, disse estar contente com a notícia, que confirma que o Ministério da Indústria do Canadá está convencido de que a aquisição da Inco pela mineradora brasileira será benéfica para o Canadá. "Agora estamos na expectativa da CVRD concluir a oferta, disse Agnelli.

Comunicado divulgado pela Vale informa que a mineradora brasileira se comprometeu com o governo do Canadá em estabelecer a base de seu negócio global de níquel em Toronto, Ontário, através da CVRD Inco, que será o veículo responsável pelos negócios de níquel da Vale e terá mandato para expandi-los de forma a tornar-se o líder global da indústria de níquel.

Ainda de acordo com este compromisso, a Vale transferirá a gestão dos seus projetos existentes e futuros de níquel para a CVRD Inco, o que inclui os projetos no Brasil - de Vermelho e Onça Puma, no Pará.

A CVRD Inco terá sede em Toronto e vai ter um diretor de operações canadense e também a maior parte de sua administração. Não haverá demissões nas operações canadenses por pelo menos três anos, e o número total de empregos nessas operações não deverá ficar abaixo de 85% dos níveis atuais.

A Vale assumiu ainda, com o governo do Canada, dentro da legislação do Investment Canada Act, compromissos de apoiar inteiramente o projeto de níquel de Voisey's Bay. Após a conclusão da oferta, a Vale pretende entrar em contato com o governo da província de Newfoundland e Labrador, onde está sendo desenvolvido este projeto, visando acelerá-lo em 12 a 18 meses.

Também vai expandir os investimentos de níquel no Canadá, incluindo pesquisa e desenvolvimento, nos próximos três anos, garantindo a viabilidade no longo prazo das atividades da CVRD Inco em Sudbury, Ontário, e Thompson, Manitoba, onde estão localizadas minas de níquel da Inco. A idéia é fortalecer a posição da CVRD Inco como líder no mercado global do metal.

Além do mais, a Vale também se comprometeu em observar os mais altos padrões de responsabilidade social e ambiental, nos projetos canadenses. E pretende assim, aumentar, nos três anos, seus investimentos em programas de qualificação de aprendizes aborígines, de estágio e recrutamento, programas educacionais e de treinamento.

No Brasil, a Vale teve esta semana, pela segunda vez, suas terras invadidas por índios da comunidade Xikrins. Os índios pleiteiam aumento da ajuda que a companhia lhes dá de R$ 9 milhões/ano, conforme acertado em acordo feito em junho último. No ano passado, esta ajuda era de R$ 6 milhões. Os índios alegam, segundo a Funai, que no acordo havia uma cláusula em que a empresa se comprometia em aumentar esta ajuda a partir de 11 de setembro. Os índios propuseram, através da Funai, uma reunião no próximo dia 26, com a mineradora, para discutir o assunto.

A mineradora informou que desconhece que o contrato assinado entre a empresa e as comunidades indígenas da região de Carajás contenha alguma cláusula de revisão para setembro e afirma que vem cumprindo o acordo assinado. Ontem, depois de mais de 48 horas de ocupação, os Xikrins deixaram as instalações das minas de Carajás, mas nada indica que não voltarão. O problema, pelo visto, ainda não foi resolvido.

Os acionistas da empresa receberam ontem a boa notícia de que vão receber a segunda parcela de dividendo mínimo a ser pago este ano pela Vale, no total de US$ 1,3 bilhão. A primeira parcela de US$ 650 milhões foi paga em abril. Esta segunda parcela de US$ 650 milhões, correspondente a US$ 0,269 por ação, será efetivada em 31 de outubro.