Título: Cotação do petróleo sobe após corte na produção
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Empresas, p. B6

O preço do barril de petróleo subiu nos mercados internacionais ontem. E, desta vez, o incremento da cotação foi impulsionado pela decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de reduzir a produção pela primeira vez desde abril de 2004.

A Opep, que responde por 40% da demanda pelo insumo no mundo, anunciou um corte de 1 milhão de barris por dia. E a Arábia Saudita, o maior produtor da entidade, deixou a porta aberta para reduções maiores até o final do ano, se for necessário.

"O que tem importância menor é o anúncio de um milhão de barris por dia. O ponto principal é como isso vai repercutir", disse o presidente da Opep, Edmund Daukoru. A oscilação também acontece porque a Administração de Informação de Energia (AIE) informou que os estoques do petróleo aumentaram 5,1 milhões de barris na última semana, superando a alta prevista por analistas de 1,3 milhão de barris.

O resultado das declarações e também da decisão da Opep foi imediato. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o produto para novembro deste ano foi negociado a US$ 58,50 alta de 85 centavos de dólar. Já na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, a commodity do tipo Brent foi vendida a US$ 60,87 para dezembro de 2006, aumento de US$ 1,29.

"Para o Brasil, o baixo preço do petróleo é bom, porque não acarreta em inflação. Já para a Petrobras, é ruim", afirma o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

De acordo com Pires, é ruim para a estatal porque a Petrobras manipulou os preços nos últimos anos. Além disso, o diretor da CBIE afirma que caso o valor do barril se estabilize entre US$ 60 e US$ 65, a empresa deveria reduzir o preço da gasolina e diesel. "Mas ela não o fará, porque a companhia precisa compensar as perdas ocorridas em 2003 e em 2004, quando o preço do petróleo disparou na bolas", afirma o economista.

Cálculos feitos por Adriano Pires demonstram, contudo, que o preço da gasolina está 30% mais caro no Brasil do que no mundo. Atualmente, um galão de gasolina nos Estados Unidos, que contém 3,7 litros, custa ao redor de US$ 2. Mas esse valor já foi maior, tanto que foi cotado a US$ 3 antes de despencar nas últimas semanas. No Brasil, a gasolina comum na bomba de combustível no posto é vendida ao redor de US$ 1,20.

O resultado dessa política, na avaliação de Adriano Pires, é que o país terá dificuldade em atrair novos investimentos privados. "O preço é político e não obedece as leis de mercado", diz.

O fato é que a decisão da Opep foi tomada rapidamente. A entidade agendou uma reunião para a tarde de ontem e formalizou o corte de um milhão de barris por dia na produção de petróleo.

O ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi, um dos mais influentes dentro da organização, disse que apoiou o corte de um milhão de barris. Além disso, explicou que a entidade poderá reduzir ainda mais a produção antes do seu próximo encontro, marcado para 14 de dezembro, na Nigéria.

Com a medida, os membros do cartel esperam que os preços do petróleo se estabilizem nos mercados internacionais. Isso, porque desde meados de julho, quando atingiu o pico histórico de US$ 78,40 por barril, as cotações da commodity tiveram declínio de 25%.

"Se isso não marcar o limite mínimo do mercado, eles terão de reduzir a produção mais uma vez", disse Christopher Bellew, corretor de petróleo da Bache Financial Ltd. de Londres. "Os sauditas têm boa fama de fazer o que dizem que vão fazer", completa o analista.

No entanto, o impasse entre os ministros da Opep nas últimas duas semanas enfraqueceu sua influência sobre os interlocutores do mercado, disseram analistas. Mesmo porque a entidade continua indecisa sobre quando efetivará o corte sobre o atual nível de produção, que é de 27,5 milhões de barris por dia. O teto nominal da organização dos produtores do insumo é de 28 milhões de barris diários. (Com agências internacionais)