Título: Economistas veem Banco Central e Fazenda mais alinhados
Autor: Neumann , Denise
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2012, Brasil, p. A4

Há um objetivo comum que une Ministério da Fazenda e Banco Central: o desejo de reduzir e manter os juros reais no país mais baixos, em patamar compatível com o cenário internacional. Para isso, o BC deve usar de forma mais intensa as medidas macroprudenciais, que ganharam relevância a partir de 2010 e hoje estão consolidadas como instrumento de política monetária do BC, na opinião dos economistas consultados pelo Valor Data. Alinhada a esse mesmo objetivo, a Fazenda também tem adotado uma política fiscal que, via desonerações, pode ajudar o setor produtivo a ser mais competitivo e, de quebra, ajudar a segurar os preços.

Dentro da consulta "qualitativa" ao economistas que integram o projeto de coleta de indicadores, o Valor Data perguntou se a atuação do BC e da Fazenda é mais harmônica e quais instrumentos devem ser mais utilizados na condução da política monetária.

Para Bráulio Borges, da LCA Consultores, "há nitidamente uma maior coordenação entre as políticas monetária, fiscal e parafiscal em relação ao que se observava no Brasil até poucos anos atrás". Para ele, o BC está seguindo o consenso internacional que se formou após a crise de 2008, segundo o qual a política monetária não pode ter apenas uma meta e um instrumento. "É preciso conciliar várias metas (inflação e estabilidade financeira) e, para isso, são necessários mais instrumentos do que somente a taxa de juros básica".

Entre os instrumentos utilizados pelo BC em harmonia com a Fazenda, Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores, cita a alteração na legislação do compulsório em maio, quando o BC forneceu estímulos aos bancos para que eles expandissem o crédito para a aquisição de veículos, e as operações de swap reverso, aplicadas, diz, "não para reduzir a volatilidade do mercado cambial, mas para impedir que a taxa de câmbio se reduza para um patamar abaixo do piso imposto pelo governo."

Para Octavio de Barros, diretor do departamento de pesquisa e estudos econômicos do Bradesco, a atuação de forma mais coordenada entre Fazenda e BC permitiu a redução da taxa básica de juros de 12,5%, em agosto do ano passado, para os atuais 7,5% ao ano. Essa queda da Selic, diz ele, "praticamente equivale a uma reforma econômica" e foi possível pelo respaldo dado pela política fiscal.

A Fazenda passou a atuar de forma mais alinhada ao BC, diz o economista-chefe do Santander, Maurício Molan, ao adotar estímulos como as isenções tributárias, "que matam dois coelhos com uma paulada: contribuem para a recuperação do crescimento e proporcionam um ganho inflacionário, ainda que temporário". O objetivo do BC é estimular a atividade econômica, desde que a inflação não ultrapasse o teto da meta, de 6,5%, afirma Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria. Para ele, "a Fazenda cria as condições para que o BC não aumente a taxa de juros", por meio de desonerações fiscais.

As medidas macroprudenciais, afirma Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, devem ter peso relevante na condução da política monetária nos próximos trimestres, "quando o risco externo estiver em queda e as taxas de crescimento interno mais elevadas". O uso desses instrumentos, diz ele, harmoniza-se com o desejo da Fazenda de redução dos juros reais.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, enxerga um grau de intervenção maior do governo em competências que antes eram exclusivas da autoridade monetária, como a taxa de câmbio, por meio da edição de medidas para conter a entrada de capitais, diz o economista.

José Francisco de Lima Gonçalves, do banco Fator, discorda. Para ele, a atuação conjunta vai apenas até o ponto em que a percepção de independência pode ser colocada em xeque, e por isso a harmonia tem limites. Para o economista, Alexandre Tombini deixou claro desde o primeiro dia à frente do BC que perseguiria a redução do risco sistêmico.

Um exemplo, diz Gonçalves, é a intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio em momentos em que o endividamento em moeda estrangeira coloca em risco a estabilidade do sistema. "Às vezes, bate com a intenção do governo, como hoje. Às vezes não, como no início do governo Dilma, quanto o BC restringiu o acesso a crédito externo e, portanto, ao crescimento". (DN, FL e TM)

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