Título: Usinaverde deve fechar seus primeiros contratos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Empresas, p. B8

Meia década atrás dois engenheiros químicos e dois administradores de empresas resolveram aprofundar seus estudos sobre os destinos do lixo no Brasil. E não precisaram gastar muito tempo para perceber que 60%, ou 100 mil toneladas, do material coletado no Brasil todos os dias passava bem longe dos aterros sanitários das metrópoles e das pequenas cidades. Eram despejados em grandes valas, leitos de rio ou mesmo em lixões.

Com esse cenário debaixo do braço, os engenheiros químicos Fernando Sandroni e João Henrique Paes Leme e os administradores de empresa Henrique Saraiva e Luiz Carlos Malta se juntaram para colocar um projeto em prática: dar um fim industrial a uma parte desse lixo espalhado pelo Brasil. E, para isso, era necessário investimentos, ou seja, sócios.

Foi assim, portanto, que surgiu a Usinaverde S/A, empresa criada em 2001 e que tem uma usina piloto responsável atualmente pela transformação de 30 toneladas de lixo em 440 quilowatts/hora (KWh) de energia. Localizada na Ilha do Fundão e dentro do campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a iniciativa já consumiu R$ 22 milhões de investimento. E agora tem chances de entrar em operação comercial em três cidades brasileiras, gerando negócios totais de R$ 250 milhões.

Mesmo não revelando o nome dos empresários e do fundo de investimento que controlam 80% da Usinaverde, Henrique Saraiva, diretor-presidente da empresa, conta que a produção de energia não fazia parte do plano original. "Inicialmente, transformávamos essas 30 toneladas de lixo em 10 toneladas de adubo orgânico, usado para correção de solo em jardins e gramados", diz Saraiva, que detém 5% da companhia. Cada um dos quatro idealizadores têm 5% de fatia no negócio.

Foi justamente por conta da grande quantidade de calor que a obtenção do adubo propiciava, que a companhia resolveu dar uma guinada no projeto. Segundo Saraiva, a alta temperatura dos gases gerava vapor e esta podia gerar energia. E foi assim que a empresa passou então a produzir o insumo, desde 2004.

Como o projeto se mostrou promissor, a Usinaverde passou a apresentar sua eficiência para companhias que tinham interesse em atuar na geração de energia. Deu certo e hoje a companhia aguarda o fim das licitações em três cidades brasileiras para licenciar sua tecnologia aos consórcios vencedores das concorrências.

"Esses três projetos poderão gerar negócios de R$ 250 milhões", avalia o diretor-presidente da Usinaverde. Muito embora o valor seja nada desprezível, a companhia detentora da tecnologia explica que seu faturamento é bem inferior. Isso ocorre porque a Usinaverde ganhará dinheiro licenciando a tecnologia de processamento pelos 20 anos que esses contratos costumam durar. Também deverá faturar com a consultoria prestada para a implantação da usina e depois com a assistência técnica que o projeto certamente demandará pelas duas décadas seguintes.

Portanto, Henrique Saraiva prefere não revelar o potencial de receita. Dá apenas uma pista. Segundo o empresário, somente o licenciamento da tecnologia costuma custar perto de 10% do valor total da empreitada.

O diretor-presidente, apesar de também manter em segredo os nomes dos municípios que estão fazendo a licitação, afirma que o módulo comercial de geração de energia a partir do lixo demandará 150 toneladas da "matéria-prima", quantidade suficiente para gerar algo como 3 MW e abastecer 10,8 mil residências ou 180 mil pessoas. E deixa escapar que um dos municípios fica no interior paulista e dois estão no Sul do país.

Instalada em uma área de 5 mil metros quadrados, a usina piloto emprega 22 pessoas na operação e mais 20 que recolhem o lixo necessário para a produção dos 440 KWh. O curioso é que metade dessa geração, 220 KWh, é usada para manter o protótipo em funcionamento. O restante, portanto, é neutralizado, já que sua quantidade é pequena para comercialização.

Os investimentos, que começaram em 2000 ainda quando o projeto estava no papel, foram fundamentais para a compra de equipamentos, que consumiram R$ 15 milhões. O restante divide-se entre gastos com viagens, consultoria e outros. (MC)