Título: Análise descarta especulação no câmbio
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Finanças, p. C1

O forte ingresso de investidores estrangeiros no Brasil, que levou à rápida apreciação do câmbio, suscitou dúvidas se a economia teria vivido um ataque especulativo. Baixada a poeira, o diagnóstico dominante entre economistas é que houve a combinação de três fatores: 1) maior apetite dos investidores estrangeiros por risco; 2) a percepção de que os fundamentos econômicos melhoraram; e 3) um movimento técnico no mercado.

A expressão ataque especulativo, de qualquer forma, não seria a mais adequada. Criada na década de 1980, ela se aplica a regimes de câmbio fixo e geralmente ocorre quando algum fundamento econômico está fora do lugar e o BC tem pouca moeda para defender a taxa de câmbio. O desenho típico é o ataque de "hedge funds" a economias com câmbio fixo e altos déficits fiscais .

Mas, num regime de câmbio flutuante sujo, em que o BC faz intervenções sem se comprometer com uma taxa determinada, parte do conceito pode ser aproveitado. Se, por qualquer motivo, os participantes do mercado acham que a taxa deveria estar mais apreciada do que está, podem deflagrar um movimento especulativo de compra. Foi o que aconteceu?

Paulo Leme, do Goldman Sachs, diz que, para além do episódio dos últimos dias, precisa ficar claro que já havia um movimento de apreciação do câmbio. O fato, diz, é que o cambio está fora de lugar, dados os fundamentos. As contas externas estão mais robustas, com elevados superávits, e os indicadores de vulnerabilidade externa são muito favoráveis. O câmbio só não desliza, por exemplo, para R$ 1,80 porque o BC vem comprando muito dolar. "Vivemos a situação privilegiada de administrar a bonança", disse.

Se, aos olhos dos investidores, é uma questão de tempo o câmbio se valorizar, os investidores estrangeiros montam suas posições especulativas, por meio das operações de "carry trade". Basicamente tomam recursos emprestados em países com juros baixos, como o Japão, e investem em países com juros mais altos, como o Brasil. Esse movimento se ampliou dramaticamente em três semanas. Um termômetro disso são as posições de estrangeiros na BM&F, que cresceram US$ 6 bilhões no período.

Fica a questão: porque as posições aumentaram justamente agora? Nos últimos dias, circulou a versão de que a decisão do BC de reduzir o corte de juros básicos, de 0,5 para 0,25 ponto percentual, fez com que os juros do mercado internos subissem, atraindo mais investidores. "Não tem o menor fundamento", afirma Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Investimentos. "Os juros caíram". O swap de 360 dias estava em 12,45% na reunião do Copom de janeiro; 12,35% na divulgação da ata; 12,25% ontem.

O que mudou foi o apetite por risco, devido à perspectiva de que a economia americana continuará crescendo. Evidência disso é que moedas de outros emergentes se valorizaram, como México, Colômbia e Turquia. É verdade, porém, que o impacto no Brasil foi maior. Em parte, se deve ao fato de que, no Brasil, os juros são mais altos, atraindo mais capitais. E também ao fato de que as cotações de "commodities" subiram, o que reforça a aposta na apreciação da taxa de câmbio.

Sérgio Goldenstein, da Arx Capital, lembra que o movimento de apreciação foi exacerbado por fatores técnicos. Participantes do mercado estavam posicionados de uma forma tal que, quando a entrada dos estrangeiros levou a apreciação com câmbio, eles tiveram que se mexer - e esse movimento contribuiu para mais apreciação do câmbio.

Alguns participantes do mercado tinham feito um tipo de operação, conhecida como "knock out", que basicamente significa que eles deixariam de ganhar dinheiro se a cotação do dólar caísse muito no dia 31 de janeiro. Eles atuaram pesado no mercado, então, para evitar a apreciação da moeda, ficando comprados. Nos dias seguintes, desmontaram as posições, vendendo dólar - fazendo o câmbio cair.

Também havia aqueles que faziam operações que davam lucros caso se mantivesse baixa volatilidade do dólar. Quando a volatilidade se intensificou, buscaram se ajustar - no caso, com a venda de dólar. O essencial, diz Goldenstein, é que foram movimentos temporários.