Título: Estrangeiros voltam a investir em título público negociado no país
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2006, Finanças, p. C2

Os investidores estrangeiros que buscam altos juros voltaram ao país em setembro, segundo estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central. As aplicações líquidas de estrangeiros em títulos públicos negociados dentro do país somaram US$ 1,346 bilhão, rompendo um período de quatro meses de estagnação.

Os investidores estrangeiros passaram a aplicar no mercado doméstico de títulos públicos a partir de fevereiro, depois que o governo concedeu isenção do recolhimento de Imposto de Renda (IR). Em março, o fluxo líquido mensal de entrada de recursos de estrangeiros chegou ao pico, com US$ 2,937 bilhões. Com a queda do "spreads" de aplicações em títulos brasileiros negociados no exterior, os estrangeiros passaram a procurar maiores retornos em papéis negociados domesticamente.

A tendência de ingressos de recursos se inverteu, porém, a partir de maio, quando se acentuaram as incertezas sobre a evolução dos juros americanos. Naquele mês, chegou a ser registrada saída de US$ 468 milhões e, nos três meses seguintes, o fluxo ficou próximo de zero.

Investidores estrangeiros aplicaram, até abril, preferencialmente em papéis do Tesouro de longo prazo. Perderam recursos quando a volatilidade internacional se acentuou porque não encontraram saída facilmente em um segmento de mercado com baixa liquidez. Menores incertezas sobre os juros americanos trouxeram os estrangeiros de volta ao país a partir de setembro.

Os dados divulgados ontem pelo BC mostram que se mantém, entre esses investidores estrangeiros, a lógica de aplicação de curto prazo, mesmo quando adquirem títulos públicos de longo prazo. Do ingresso líquido de US$ 1,346 bilhão observado em setembro, 48% se referem à compra de papéis de curto prazo (menos de um ano) e 52% à compra de papéis longos.

Mesmo quando adquirem papéis de longo prazo, porém, o giro relativamente alto dos papéis sugere que os investidores estrangeiros tem se governado pela lógica de curto prazo. Em setembro, ingressou US$ 1,232 bilhão para ser aplicado em papéis de longo prazo, mas no mesmo mês estrangeiros retiraram do país US$ 534 milhões. No ano, o fluxo líquido acumulado chega a US$ 7,383 bilhões, até setembro.

Os investidores estrangeiros também aplicaram mais em setembro nos papéis brasileiros de renda fixa negociados fora do Brasil. As captações feitas por empresas em setembro representaram 163% dos vencimentos ocorridos no mês. Em agosto, o percentual havia sido mais elevado, correspondendo a 216% dos vencimentos. Mas esses percentuais são um pouco distorcidos pelo fato de que em setembro houve cerca do dobro dos vencimentos observados em agosto - US$ 987 milhões e US$ 487 milhões, respectivamente.

Os dados parciais de outubro, que cobrem até o dia 19, apontam uma queda na taxa de rolagem, para 40%. "Ainda é cedo para se falar em mudança de tendência", afirma o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "É possível que as empresas tenham antecipado para setembro as captações destinadas a levantar recursos para realizar as amortizações previstas para outubro."

O BC trabalha com a perspectiva de que, no último trimestre, as novas captações correspondam a 100% dos vencimentos. É uma projeção conservadora, tendo em vista que, de janeiro a setembro, a taxa de rolagem é de 183%.