Título: Seguradoras começam a mudar para abertura
Autor: Junior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Finanças, p. C4

As seguradoras já começaram a se preparar para a abertura do mercado de resseguros. Busca por executivos que já atuaram em resseguradoras internacionais, contratação de consultorias e investimentos em tecnologia estão entre as principais ações que as companhias já começaram a tomar.

A gigante alemã AGF, do Grupo Allianz, pretende reproduzir no Brasil a estrutura que tem lá fora, onde os mercados de resseguros são abertos. A área aqui já conta com 15 pessoas. Equipes de profissionais brasileiros estão sendo treinadas na europa. Um deles, que ficou três anos na matriz, está voltando para o Brasil. "A abertura vai exigir maior conhecimento do mercado e know-how para as negociações com as resseguradoras internacionais", destaca o presidente da AGF, Max Thiermann.

Com o projeto de lei que abre o mercado sancionado em janeiro, Thiermann foi chamado para uma reunião na matriz na semana passada. O board da seguradora queria saber o que pode acontecer no mercado brasileiro após a abertura. A AGF faturou R$ 1,2 bilhão no país em 2006, até novembro e tem atuação forte em riscos de engenharia, saúde e automóvel.

A seguradora, segundo Thiermann, vem se preparando há vários meses para a abertura do mercado. No ano passado, contratou a escocesa Margo Isabel Black, que trabalhou por mais de 30 anos na área de resseguros. Ela chegou ao Brasil em 2000, quando o IRB Brasil Re quase foi privatizado. Veio junto com uma nova resseguradora que iria atuar aqui. Com a suspensão da privatização, pelo próprio PT, sua empresa foi embora, mas ela resolveu ficar, atuando no setor de resseguros. Margo avalia que várias resseguradoras estrangeiras, que deixaram o país naquele ano, vão começar a voltar para cá, mas ao contrário daquele período, a volta será de forma gradual.

A UBF, que tem como sócia a Swiss Re, maior resseguradora do mundo, e atua com seguro garantia (que garante a construção de obras), também resolveu reforçar sua equipe. Em janeiro, contratou Luiz Alberto Pestana, que trabalhava na Munich Re, outra gigante mundial do mercado de resseguro. "Estou trazendo a experiência do outro lado", disse.

Além de Pestana, a UBF contratou uma consultoria para fazer um trabalho de avaliação interna (mudanças técnicas e operacionais necessárias) e externa (rumos do mercado). O trabalho deve durar 16 semanas.

A Zurich, que é forte nos seguros de transportes e de engenharia, criou um grupo de trabalho com profissionais de toda a seguradora para preparar a companhia para um novo modelo de atuação. Segundo Pedro Purm, presidente da Zurick, o grupo vai indicar o que precisa ser mudado, qual segmento precisa ser melhorado e onde há necessidade de treinamento.

Purm avalia que a contratação de profissionais especializados em resseguros será essencial, principalmente de pessoas treinadas lá fora. Dentro destes profissionais, ele destaca aqueles que fazem a análise técnica do risco. "Quem avaliar melhor, vai conseguir condições diferenciadas no mercado internacional", afirma. A Zurick conta com quatro engenheiros para avaliar riscos e esse número deve ser aumentado. A área operacional, acostumada a lidar só com o IRB, que tem o monopólio do resseguro no Brasil, também vai precisar de reforço, com investimentos em técnicos e sistemas de informática. "A logística operacional vai mudar agora", diz.

As seguradoras ouvidas pelo Valor concordam que algumas companhias estão mais preparadas que outras. "Tem empresa que nem a cotação do risco faz. Deixa tudo para o IRB fazer", diz o presidente de uma seguradora.

Os profissionais com experiência em resseguro serão os mais disputados e com os melhores salários, avaliam o especialistas. A definição de novos investimentos e novas mudanças vai depender da regulamentação do setor de resseguros, que deve ficar pronta neste semestre.

"O mercado passa por grande transformação", destaca Matias Ávila, da Liberty Seguros. Além da abertura do resseguro, há as novas regras de solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que vão exigir ajustes de capital em algumas seguradoras. Outro ponto é a queda dos juros básicos, que vai demandar maior eficiência operacional das companhias, acostumadas a ganhar recursos no mercado financeiro.