Título: No Brasil, 10 grupos respondem por 70% da venda de software
Autor: Brigatto, Gustavo
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2012, Empresas, p. B1

As compras de software no Brasil são mais concentradas em poucas companhias do que a média do resto do mundo. Nesse cenário diferenciado, quatro empresas de capital nacional figuram na lista de maiores fornecedores de tecnologia da informação (TI) no país.

Essas são algumas constatações de um levantamento feito com exclusividade pela empresa de pesquisa IDC para o Valor. A pesquisa leva em consideração as receitas com as vendas de softwares, equipamentos (servidores e unidades de armazenagem) e serviços de tecnologia da informação em 2011.

De acordo com a IDC, o mercado de TI no Brasil movimentou US$ 54,3 bilhões no ano passado, um crescimento de 5,8% na comparação com 2010. O número inclui a venda de equipamentos para consumidores residenciais. Do total de recursos, US$ 8,6 bilhões foram direcionados para softwares, US$ 31,6 bilhões para equipamentos e US$ 14,1 bilhões para serviços. Os segmentos que mais investem em tecnologia no país são bancos, telecomunicações, manufatura e governo.

Na área de software, 70% das vendas ficaram concentradas em dez empresas em 2011. Esse percentual é muito superior à média global, de 48%. De acordo com Anderson Figueiredo, gerente de pesquisa da IDC, essa concentração está atrelada a uma característica particular do mercado brasileiro: as companhias locais não têm tradição de criar sistemas de "prateleira", que podem ser instalados rapidamente em qualquer cliente.

A maioria das companhias aposta na criação de sistemas personalizados. A abordagem é interessante para pequenos compradores de TI, mas não agrada às grandes companhias, que preferem investir em produtos de grandes fornecedores.

Única brasileira no ranking, a Totvs conquistou a posição principalmente por conta das aquisições que fez nos últimos anos. Na avaliação de Figueiredo, a ascensão de outro grande grupo nacional hoje é mais difícil, porque os competidores já são muito grandes.

No segmento de equipamentos, assim como acontece no mundo, a concentração das receitas tem um nível bastante alto no Brasil: 97% do mercado está em poder de dez companhias. Se a análise se restringir às três maiores empresas do ranking, o quadro é ainda mais acentuado. IBM, Dell e HP detêm, sozinhas, 80% do mercado.

A concentração no setor de equipamentos, segundo Figueiredo, é resultado das características da atividade. "O segmento demanda muito investimento em inovação, mas também existem questões relativas a distribuição, suporte e serviços. É uma área mais complicada", afirmou.

Participação é semelhante nos setores de equipamentos e serviços, em linha com o cenário internacional

Com atuação na área de servidores, a brasileira Itautec ocupa a 8ª colocação no ranking. Ligada ao grupo Itaú, a companhia tem presença relevante nos bancos, o que lhe garantiu um espaço entre as grandes marcas de fornecedores estrangeiros. Segundo a IDC, o mercado de finanças é o que mais compra servidores e equipamentos de armazenagem no Brasil.

Menos concentrado entre todos setores no país, a área de serviços de TI tem 39% das receitas concentradas em dez companhias. Figueiredo explica que a área de serviços sempre foi bem atendida pelas companhias brasileiras. Por isso, o segmento tem empresas mais estruturadas, com capacidade de atender o mercado com até mais qualidade que concorrentes estrangeiros.

A relevância das empresas de capital nacional cresceu nos últimos anos, a ponto de algumas delas se tornarem alvo de aquisições por grupos estrangeiros. Deixaram de ter capital nacional a Tivit (comprada em 2010 pelo grupo de investimento britânico Apax), a CPM Braxis (adquirida pela francesa Capgemini em 2010) e a Politec (comprada pela espanhola Indra no ano passado). A chilena Sonda também fez uma série de aquisições para se consolidar no segmento de serviços. A mais importante foi a da Procwork, em 2007, que impulsionou a presença da companhia no país.

Com essas movimentações, o ranking dos prestadores de serviços de TI no Brasil em 2011 passou a contar com apenas duas empresas de capital nacional - Stefanini e Scopus - comparado a seis nos anos anteriores. Para Figueiredo, há espaço para mais uma concorrente nacional na lista. "Três empresas seria a participação justa do Brasil por conta da especialização em serviços", afirmou.