Título: Banco do Nordeste ocupa espaço na região
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Brasil, p. A5

O forte crescimento dos empréstimos do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) nos últimos quatro anos, especialmente os de longo prazo, com recursos do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE), tem compensado a timidez das aplicações do BNDES na região Nordeste, em termos de volume total desembolsado. Os financiamentos do FNE passaram de R$ 250 milhões em 2002 para R$ 4,2 bilhões em 2005, segundo dados do BNB, responsável pela gestão dos recursos.

Desde 2004, os empréstimos do FNE já superam os desembolsos do BNDES para os Estados nordestinos. Em 2005 os recursos do banco de fomento de abrangência nacional para o Nordeste somaram R$ 3,8 bilhões, ante R$ 4,2 bilhões do FNE. Em 2004 os números foram R$ 2,7 bilhões e R$ 3,2 bilhões, respectivamente.

Para este ano o BNB está esperando repetir o mesmo volume do FNE aplicado no ano passado. Os recursos do FNE têm uma divisão formal por Estados e do total aplicado, os programas de agricultura familiar recebem parcela que tem sido sempre superior a 20% do total. Em 2005 foi de R$ 1,05 bilhão (25%).

Embora a evolução dos empréstimos ainda não apareça nas estatísticas referentes ao crescimento do PIB nordestino, o diretor de Gestão do Desenvolvimento do BNB, Pedro Lapa, avalia que isso ocorre devido à defasagem dos números do IBGE. Para ele, quando saírem os dados referentes aos anos atuais e aos próximos, a região Nordeste já deverá aparecer "acima da linha (da média nacional)". O executivo avalia que esses bons resultados devem ser comandados pelos Estados da Bahia, Pernambuco e Ceará, as três maiores e mais dinâmicas economias nordestinas.

Lapa disse que a ampliação geométrica das aplicações do FNE nos últimos três anos só foi possível porque existia "um saldo significativo não aplicado". Robustecidas pelo crescimento dos investimentos do FNE, o próprio BNB como um todo tem aumentado significativamente suas operações de crédito, que passaram de R$ 1,4 bilhão em 2002 para R$ 6 bilhões no ano passado, com estimativa de chegar a R$ 6,6 bilhões neste ano. Ao contrário do BNDES, o BNB também atua como banco comercial, contando com um total de 180 agências.

Essa configuração, no entendimento de Lapa, dá ao banco federal nordestino a possibilidade de prospectar oportunidades de investimentos de forma mais detalhada que o próprio BNDES, o que não significa haver uma competição entre as duas instituições. "A gente encara o BNDES como parceiro. A tendência é de que haja uma participação conjunta, especialmente em projetos estruturantes", disse o diretor do BNB.

Um desses projetos é o pólo têxtil de Pernambuco (poliéster). A partir de fábricas de resina (matéria-prima) e de fios que estão sendo instaladas com apoio dos dois bancos, Lapa avalia que será possível atrair um grande números de indústrias de tecidos e de confecções, de modo a alcançar um nível para competir com a indústria têxtil chinesa.

Como os recursos do FNE estão atingindo o limite para permitir a ampliação dos níveis de investimentos já alcançados, o BNB está procurando diversificar suas fontes, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), principal fonte do BNDES, do Fundo de Marinha Mercante (FMM) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), neste último caso, especialmente destinados a obras de infra-estrutura.