Título: Hidrelétricas mais caras tornam opção competitiva
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Brasil, p. A3

O aumento do custo de construção das hidrelétricas, associado às dificuldades no licenciamento ambiental, torna a opção nuclear cada vez mais competitiva no Brasil, mesmo comparada aos preços do gás natural. No último leilão, a energia das térmicas a gás custou R$ 137,40 por megawatt-hora (MWh) sem considerar o preço do combustível. O valor é pouco menor que os R$ 138,14 encontrados em um estudo de viabilidade de Angra 3 apresentado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) na última reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), no primeiro semestre.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, a tarifa apresentada pelo MME consta de um estudo de viabilidade de Angra 3 onde já foi considerado o custo financeiro e do combustível nuclear. "A comparação serve para mostrar que Angra 3 já é competitiva com outras térmicas", diz ele.

Para Kuramoto, a competitividade será maior no fim da década, pois há projeções de aumento do custo para termelétricas a partir da importação do gás natural liqüefeito (GNL). "Alguns estudos apontam o preço do GNL entre US$ 7 e 10 por milhão de BTU (medida que mede o poder calorífero do gás) quando ele começar a ser vendido no Brasil", ressalta, lembrando que o urânio é mais barato.

Leonan dos Santos Guimarães, chefe de gabinete da presidência da Eletronuclear, vai além. Segundo ele, se for calculado o custo de Angra 3 e o valor da potência instalada da usina, o resultado é um investimento de R$ 7 mil por kilowatt (kW) firme. "No leilão de dezembro passado a usina de Mauá estava orçada em R$ 5,5 mil e a usina Ipueiras ficaria por R$ 8,5 mil por kW firme, mais cara que Angra 3", frisou Guimarães.

O economista Adriano Pires, do CBIE, acha que a discussão faz sentido porque um terço da oferta de energia até 2015 pelo governo se baseia em três projetos "complicados ambientalmente ": Angra 3 e hidrelétrica de Belo Monte e rio Madeira. "São projetos cuja complexidade sempre mostrou que vão custar caro", ressaltou.