Título: Plano prevê Angra 3 e mais seis usinas nucleares até 2025
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Brasil, p. A3

Sem fazer muito alarde, a Casa Civil já recebeu a versão final de um amplo estudo com as possibilidades de ampliação do programa nuclear brasileiro. O assunto deve ser levado à próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) prevista para uma semana depois das eleições.

O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Dias Gonçalves, define o plano como um "ataque" à produção de energia. O documento na Casa Civil foi coordenado pela Cnem, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Eletronuclear, e por instituições ligadas aos ministérios de Minas e Energia, Defesa e Relações Exteriores, com base em estudos do Centro Técnico da Marinha, Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) e Nuclep, entre outros.

Segundo Gonçalves, a proposta é construir no máximo até 2025 mais sete reatores nucleares, incluindo a usina nuclear Angra 3. Com potência instalada de 1.300 megawatts (MW), ao lado das gêmeas Angra 1 e Angra 2, Angra 3 também seria instalada em Angra dos Reis, litoral sul do Rio. O investimento nessa usina é orçado em US$ 1,8 bilhão. À partir dela, começariam os estudos para definir a tecnologia das outras plantas.

"Angra 3 é paradigmática, é um ponto de inflexão. Com ela se resolve algumas questões simbólicas e a partir do momento em decidirmos por essa usina, temos que começar a discutir as outras, que ainda precisam ser estudadas", explicou o presidente da Cnen. Além dessa usina, cujos equipamentos já foram comprados, o estudo feito pela área nuclear propõe a construção de duas usinas de grande porte iguais a Angra 3 e mais quatro plantas com reatores menores, com potência de 300 a 600 MW.

O objetivo é chegar a 2023 ou 2025 com participação de 5,6% da energia nuclear na matriz energética brasileira, contra os atuais 2,5%. À exceção de Angra 3, Gonçalves disse que o local das novas plantas ainda não foi decidido, mas tudo indica que pelo menos uma planta deve ficar no Nordeste. "O Nordeste não tem mais alternativa hidrelétrica e é um grande centro consumidor. E o rio São Francisco é favorável devido à necessidade de resfriamento do reator. Mas não há recomendação explícita no relatório", explicou.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, declarou, em março, em entrevista à "BBC Brasil", que vê necessidade da instalação de duas, e não apenas uma usina nuclear no Nordeste e citou a possibilidade delas serem instaladas na margem do São Francisco.

O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, explicou que a construção de Angra 3 viabiliza o enriquecimento de urânio no Brasil. Segundo ele, a estimativa da INB é que seriam necessários R$ 850 milhões para tornar viável o enriquecimento do urânio no Brasil para as três usinas. Hoje o urânio enriquecido usado como combustível nas plantas nucleares é produzido na Holanda. Isso porque não há consumo em escala que justifique o processamento no Brasil, apesar das grandes reservas existentes no país, que também já domina a tecnologia.

O coordenador de comunicação da Aben, Guilherme Camargo, ressalta ainda um aspecto. Segundo ele, a fábrica da INB em Resende (RJ) foi projetada para três usinas de grande porte e hoje trabalha com ociosidade de 40%.

O secretário de Energia do Rio, Wagner Victer, que representa os estados no CNPE, acha que não é possível discutir outras nucleares sem tomar a decisão de construir Angra 3. O secretário disse que considera "um caso psiquiátrico" o fato da usina constar no Plano Decenal do governo federal para suprimento da demanda de energia até 2015 sem que sua construção tenha sido aprovada pelo CNPE.