Título: Espanha não tem pressa, diz Guindos
Autor: Toyer, Julien
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2012, Finanças, p. C3

A Espanha não se apressará em solicitar auxílio externo para financiar sua dívida, disse no fim de semana o ministro da Economia do país, Luís de Guindos, adicionando que os bancos espanhóis precisam de € 60 bilhões para eliminar ativos imobiliários tóxicos de seus portfólios.

"Isso não diz respeito a resgatar a Espanha, mas a garantir que o projeto do euro como moeda seja um projeto para todos. A Espanha fará o que tem de fazer, mas sem pressa", disse Guindos ao ser questionado sobre a possibilidade de o país buscar ajuda nos próximos dias.

O governo solicitou uma linha de crédito europeia no valor de € 100 bilhões em junho com o objetivo de recapitalizar seus bancos em dificuldades. Além disso, o país está envolvido há semanas em negociações a respeito de um programa de compra de bônus adotado pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelos fundos de resgate da zona do euro, ao qual hesita em recorrer por conta de preocupações com as condições atreladas a ele.

Mas com as crescentes necessidades de financiamento aproximando-se de grandes cargas de dívida e uma economia que, de acordo com Guindos, deve se contrair cerca de 0,4% no terceiro trimestre deste ano, talvez seja necessário que a Espanha aja mais cedo do que pretende.

Fontes a par do tema disseram à Reuters que a Espanha estava considerando a possibilidade de antecipar um aumento planejada na idade da aposentadoria e cancelar um reajuste de 3% sobre o pagamento de pensões relacionado à inflação para cumprir as demandas europeias.

Guindos também confirmou que espera que os resultados do teste de estresse independente do setor bancário espanhol conduzido pela consultoria Oliver Wyman esteja em linha com as estimativas preliminares apresentadas em junho, que indicavam necessidade de capital de € 60 bilhões.

O montante final poderá ser reduzido, já que alguns bancos provavelmente serão capazes de levantar capital por si próprios no mercado, enquanto detentores de instrumentos híbridos de capital sofrem pressão para aceitar um deságio sobre seus investimentos. Ativos também serão transferidos ao chamado "banco ruim", que o governo pretende estabelecer para então se livrar de ativos tóxicos.

Entretanto, não será possível alocar qualquer dinheiro não utilizado da linha de crédito de € 100 bilhões para outros motivos, como financiar o governo, adicionou De Guindos.

É a primeira vez que o governo espanhol quantifica os resultados de um teste de estresse - o anúncio será na sexta-feira. As conclusões desses testes em 14 principais bancos espanhóis vão servir de referência para verificar quais instituições financeiras necessitam de dinheiro europeu e quanto.

A Espanha está no centro da crise de dívida da zona do euro, que chega agora a seu terceiro ano, e investidores acreditam que seu alto déficit, crescente carga de dívida, setor bancário derrubado pela explosão de uma bolha imobiliária e contração econômica cada vez mais intensa poderão levar o país a buscar mais auxílio externo.