Título: Nestlé fica mais perto do consumidor de baixa renda
Autor: Sobral, Eliane
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Empresas, p. B5

Com investimentos de R$ 100 milhões, a Nestlé inaugura hoje sua mais nova fábrica em Feira de Santana seguindo os passos de outras multinacionais, como a Pepsico, que enxergam na cidade baiana uma forma de ficar mais perto do consumidor nordestino, além de facilidades para distribuir a produção a outras regiões do país.

O vice-prefeito de Feira de Santana, Antonio Carlos Borges Júnior, observa que a localização privilegiada e o perfil sócio-econômico da cidade explicam a atração de grandes empresas. "A cidade fica a apenas 100 quilômetros de Salvador, é cortada por duas rodovias federais - a BR 101 e a BR 116 - e três estaduais. Ela está tão próxima de São Paulo, quanto de Fortaleza e de Salvador". Feira de Santana tem um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 2,6 bilhões, com crescimento de 47% entre 2001 e 2004. A economia de Feira está entre as cinco maiores da Bahia. Com 527,6 mil habitantes, a renda per capita média é de R$ 207.

A nova fábrica da Nestlé, onde serão produzidas massas lámen e envasadas bebidas achocolatadas, cereais e café solúvel, faz parte de um projeto maior. O presidente da empresa, Ivan Zurita, disse, em junho passado, quando foi lançada a pedra fundamental da fábrica de Feira de Santana, que além do investimento de R$ 100 milhões, um novo aporte de R$ 200 milhões seria feito em cinco anos.

Na ocasião, Zurita informou que a capacidade produtiva seria de 50 mil toneladas por ano. Produção de sorvetes, sopas, iogurtes e caldos está prevista para quando a unidade crescer. O projeto de R$ 300 milhões deve tornar essa nova fábrica a mais diversificada dentre as 27 que a Nestlé tem no país. Zurita também estudava onde instalar mais duas fábricas no Nordeste, com investimento de R$ 50 milhões cada uma.

Johnny Wei, diretor de regionalização e novos negócios da Nestlé, e especialista em consumo da população de baixa renda, diz que o tíquete médio nacional está na casa R$ 12 e o do Nordeste gira em torno de R$ 9. "O poder aquisitivo é menor, mas extremamente atrativo". Produzir para o consumidor nordestino, porém, requer algumas adaptações. "Os nordestinos têm hábitos alimentares diferentes dos da região Sul e Sudeste. Além disso, é preciso oferecer embalagens menores e que se adequem ao bolso da população."

"A vinda da Nestlé para cá será um divisor de águas pelo porte do investimentos que eles estão fazendo", diz Jorge Raimundo Lins Neto, presidente da Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado da Bahia.

A inauguração de hoje terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em setembro de 2003, Lula esteve lá para a inauguração de uma fábrica da Pirelli , com investimento de US$ 120 milhões e produção diária de 7,5 mil pneus. Em janeiro passado, foi a vez da PepsiCo, dona das marcas Pepsi, Toddy, Coqueiro, Quaker, Gatorade e Elma Chips, anunciar investimento de US$ 10 milhões para construção de nova fábrica.

Segundo a prefeitura, a cidade abriga ainda uma fábrica da Belgo Bekaert, que produz pregos e arames e está abrindo nova unidade para produzir malha de aço para pneus; outra da Rigesa (de embalagens industriais); uma da Vipal Borrachas e uma da Sherwin Williams, de tintas, entre outras de menor porte. Mas Feira de Santana não é a única cidade com poder de atrair novos negócios. O interesse pela população de baixa renda tem levado investimentos a outros pontos do Nordeste. Em julho passado a Unilever anunciou investimentos de R$ 50 milhões para transferir sua fábrica de São Paulo para o interior do Estado e para a cidade de Jaboatão dos Guararapes (PE). A mudança faz da unidade pernambucana a maior operação do segmento de sorvetes da Unilever na América Latina.