Título: Assembléia da PT será decisiva para planos da Sonaecom
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2007, Empresas, p. B2

O dia 2 de março será decisivo para abortar ou dar prosseguimento a operação em torno da oferta hostil do grupo português Sonaecom pela Portugal Telecom (PT). Nesta data, está marcada assembléia de acionistas em que pauta prevê a votação de mudança do estatuto. Atualmente, a participação dos acionistas no capital da companhia não pode ultrapassar 10%. Na oferta da empresa do grupo Sonae é condição-chave que, caso compre a operadora, venha ter o controle absoluto da companhia. Por isso entrou em pauta do conselho a votação da mudança da norma estatutária.

Caso um terço dos acionistas vote em contrário caem por terra as chances da Sonaecom comprar a companhia. Segundo fonte próxima à PT, um claro opositor à mudança é o grupo Banco Espírito Santo que detém 8,08% das ações. Já a espanhola Telefónica, com 9,96% , segundo essa mesma fonte, também já se posicionou contrária à alteração do estatuto. Mas como o grupo Sonae já declarou que, caso compre a PT, a intenção é vender a participação portuguesa na Vivo, a avaliação natural é que para a operadora espanhola facilitar a venda da PT significa abrir caminho para o desejado controle da operadora de celular brasileira. Por isso, há quem ache pouco provável que a Telefónica vote contra o interesse da Sonaecom. Só se houver outras preocupações.

Segundo o analista de telecomunicações do banco Brascan, Felipe Cunha, caso a oferta do Sonaecom seja impedida de prosseguir, pode surgir um outro candidato, por exemplo, a mexicana Telmex (hoje com 3,41% da PT). O grupo do mexicano Carlos Slim Helú que tem apetite voraz para aquisições. Mas não tem o hábito de fazer propostas com preço acima dos de mercado. Pelo contrário, um exemplo está sendo o interesse pela TIM Brasil. Fez oferta cujo valor não agradou os controladores italianos. O analista do Brascan diz, ainda, "com a Sonae ou não em algum momento a Vivo será consolidade em torno da Telefónica", diz.

O executivo da área internacional da Telefónica, José Maria Pallete, disse em 2006 para analistas que o grupo destinou em torno de US$ 1,5 bilhão para aquisições na América Latina em 2007. E pelo cálculo do analista o valor da participação da PT na Vivo se encaixa dentro do montante.

"Hoje, o valor de mercado da Vivo, a partir das ações preferenciais, é de R$ 12 bilhões ou US$ 5,7 bilhões, o que significa pagar US$ 200 por assinante. Em uma operação de compra poderia ser pago cerca de US$ 350 por assinantes, valor bem viável em operações da América Latina." E ele faz a conta: "90% do controle é da Brasilcel, dividido em metade metade entre PT e Telefónica e vale R$ 6,3 bilhões. Dividido por dois significa R$ 3,15 bilhões o que se encaixa no valor que a Telefónica separou para aquisições", avalia o analista.

Ontem a PT divulgou o balanço registrando aumento de 33 % no lucro de 2006. O resultado atingiu 867 milhões de euros, valor que teria superado as expectativas do mercado. Em 2005, o lucro ficou em 654 milhões de euros. A receita da PT caiu 1%, para 6,343 bilhões de euros. O lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (lajida), recuou 3 %, para 2,423 bilhões de euros. Analistas que acompanham a companhia previam lucro líquido entre 515 milhões de euros e 850 milhões de euros, uma média de 627,2 milhões de euros.

Além da Telefónica, grupo Espírito Santo e Telmex, a PT tem como principais acionistas: Brandes Investments Partners (7,67%), Caixa Geral de Depósitos (5,25%), Paulson & Co (2,34%), Credit Suisse (2,22%), Fidelity (2,09%), Fundação José Berardo (2,07%), Barclays (2,07%), UBS (2,02%) e Ongoing Strategy Investments (2%).