Título: Um Brasil ainda muito desigual
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 18/11/2010, Economia, p. 16

Concentração econômica segue forte, apesar da expansão do Nordeste e do Centro-Oeste. Na contramão, Brasília se sai mal

O Brasil continua a ser um país de produção e renda extremamente concentrados, mas essa realidade começa a dar lugar a um outro país. Ao menos, é o cenário pintado pelo estudo Contas Regionais, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os estados que mais ganharam espaço na economia brasileira em 2008 são os do Nordeste e os do Centro-Oeste. Em contraponto, o Distrito Federal teve o sexto pior desempenho naquele ano (leia mais na página 17), quando a crise financeira mundial mudou completamente o ambiente econômico.

¿É um país ainda concentradíssimo¿, avaliou Frederico Cunha, gerente de Contas Regionais do IBGE. ¿Mas começa a dar mostras de que inicia um caminho para fora do eixo central. É exatamente o que explica o desempenho acima da média das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte, que ganharam participação no Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) desde 2002, ao passo que Sul e Sudeste vêm perdendo chão. ¿Podemos atribuir esse processo de desconcentração ao interesse da indústria em ficar mais próxima dos centros fornecedores de matéria-prima e dos novos consumidores¿, explicou Cunha.

Para ele, isso justifica a migração da indústria leve, como a de alimentos e bebidas, inaugurando novas plantas nas regiões que se expandiram. O avanço da Região Norte deveu-se, principalmente, à expansão do polo industrial de Manaus, à ampliação da extração de minério e do setor de metalurgia no Pará, acrescentou o economista do IBGE. No Centro-Oeste, o fator decisivo para o ganho de espaço foi o avanço da fronteira agrícola e o crescimento da agroindústria.

No caso do Nordeste, segundo Cunha, houve a instalação de novas indústrias. ¿Historicamente, essa região respondia por 12,6% do PIB brasileiro. Em 2005, ela ampliou essa participação para 13,1% e manteve essa fatia, mesmo com a economia do país em franco crescimento¿, ressaltou. ¿Podemos dizer que o Nordeste teve um grande desempenho nesse período.¿

Piauí na frente Contribuiu para esse comportamento destacado do Nordeste o estado do Piauí, que apresentou um crescimento real do PIB de 8,8% de 2007 para 2008, justamente o que mais cresceu, consideradas as 27 unidades da Federação. Mas também colaboraram os estados do Ceará, com evolução de 8,5%, da Paraíba (5,5%) e de Pernambuco (5,3%), todos com desempenho acima da média nacional, de 5,2%.

De acordo com o IBGE, os bons resultados do Piauí em 2008 foram consequência da agricultura, responsável por 7,3% da economia do estado contra 4,5% em 2007. O que mais pesou para esse efeito foi o cultivo de soja, que teve crescimento real de 546% em seu valor agregado. A atividade agrícola também impulsionou a economia do Ceará, que se destacou pela produção de cereais, com aumento de 136% em relação ao ano anterior, período em houve uma queda de 64%.

A terceira maior expansão foi registrada pelo estado de Goiás, que apresentou crescimento real de 8% de seu PIB, e foi seguido de perto por Mato Grosso, com evolução de 7,9%, e Espírito Santo, com aumento de 7,8%. Para o IBGE, tanto Goiás quanto Mato Grosso tiveram um comportamento diferenciado devido à agricultura.

Periferia se destaca Os estados campeões de crescimento entre 1995 e 2008 foram Mato Grosso, Amazonas, Amapá e Espírito Santo. Em quinto lugar no ranking da ampliação real do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) em 13 anos estão empatados o Acre e o Tocantins. Mato Grosso, com taxa de 128,4%, foi o estado que mais expandiu-se em termos reais, quase três vezes a média nacional (47%). Mas ele enfrentou períodos difíceis, como em 2006, quando a atividade econômica, influenciada pela queda em volume de 17,9% da atividade de agropecuária, encolheu 4,6%.

O Amazonas teve expansão de 104,9%, impulsionado pela indústria de transformação, que responde por cerca de 30% de sua economia. Entre 1995 e 2008, a atividade cresceu 86% em termos reais e 50,3% entre 2002 e 2008, totalizando um salto de 174,9%. O estado foi seguido por Amapá (91%), Espírito Santo (82,2%), Acre e Tocantins, empatados com crescimento real do PIB de 78,9%. Na ponta oposta da tabela, aparecem Rio de Janeiro (30,7%), Rio Grande do Sul (34,5%), Alagoas (36,2%), São Paulo (39,8%) e Pernambuco (43,9%), que cresceram abaixo da média nacional (47%).

Vez do Norte Em termos de regiões, o Norte foi o que apresentou a maior expansão real do PIB (81,9%) no período de 13 anos. Foi seguido pelo Centro-Oeste, com evolução de 73,3%, do Nordeste (51,9%), do Sul (44,6%) e Sudeste (40,6%). Mas, considerando o avanço na contribuição para a economia nacional, a Região Nordeste teve melhor desempenho. Houve uma ampliação de 1,1 ponto percentual ¿ de 12% em 1995 para 13,1% em 2008. Em seguida, a Região Norte foi a que mais avançou sobre o PIB nacional (0,9 ponto percentual), acompanhada de perto pelo Centro-Oeste, com aumento de 0,8 ponto percentual. A Região Sul também acabou conquistando espaço (0,4 ponto percentual).

Oito maiores caem Jorge Freitas Especial para o Correio

Oito estados respondem por 78,2% da geração de riquezas no Brasil. Três são da Região Sudeste ¿ São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais ¿, outros três da Região Sul ¿ Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina ¿, um do Nordeste (Bahia) e um do Centro-Oeste (Distrito Federal). Na avaliação de Frederico Cunha, gerente de Contas Regionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa concentração diminuiu em relação a 2002, quando a participação do grupo era de 79,7%.

O IBGE apontou que São Paulo foi o estado com a maior perda de espaço na economia brasileira, de 1,5 ponto percentual. Ainda assim, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas) do estado ultrapassou, pela primeira vez em 2008, a marca de R$ 1 trilhão. ¿Esse encolhimento de São Paulo está relacionado ao comportamento da indústria de transformação¿, explicou o gerente do IBGE. O segmento participou com 43,7% do total da atividade no estado em 2008, depois de perder 5 pontos percentuais desde 1995. ¿Essa indústria sai de São Paulo e instala-se nos outros estados de economia mais ativa no país. São aqueles que disputaram as plantas na base da concessão de incentivos fiscais¿, acrescentou.

Pelos cálculos do IBGE, a indústria de transformação perdeu participação de 0,4 ponto percentual na economia brasileira (17% em 2007 para 16,6% em 2008), o que impactou diretamente o estado, que detinha cerca de 44% dessa atividade.

Laranjas e finanças Outro aspecto que contribuiu para a perda de espaço de São Paulo, segundo o IBGE, foi a agricultura, que apresentou queda de participação, influenciada pela redução dos preços da cana-de-açúcar e da laranja, cultura cujas atividades correspondiam a 48,6% da agropecuária paulista em 2007 e passaram a representar 40,5% em 2008. Também o serviço de intermediação financeira perdeu espaço. Passou de 7,7% em 2007 para 6,8% em 2008, quando SP concentrava 51% dessa atividade. (Colaborou Liana Verdini)

SP derruba Sudeste A desconcentração pode ser medida mesmo pela redução da participação da Região Sudeste, que diminuiu 3,1 pontos percentuais no PIB brasileiro. ¿Mais uma vez, destaque para a perda de participação de São Paulo, estado que, sozinho, teve queda de 4,2 pontos percentuais de participação em 2008, quando comparado a 1995¿, disse Frederico Cunha, gerente de Contas Regionais do IBGE.