Título: Aécio recomenda cautela no uso do mensalão na campanha
Autor: Bueno , Sérgio Ruck
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2012, Política, p. A8

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) recomendou ontem, em Porto Alegre, que o julgamento do mensalão não seja usado como o principal discurso dos tucanos contra as candidaturas do PT nas eleições municipais. "A questão do mensalão é algo que paira sobre toda a classe política", disse ele, que afirmou preferir argumentos como a "eficiência e a capacidade de gestão" do partido.

"Eu tenho muito cuidado de utilizar ou fazer com que o mensalão seja o principal argumento contra candidaturas do PT, porque nós temos outros mais fortes, que é a nossa capacidade de gestão, a nossa eficiência", disse o senador. Para ele, a maior razão pela qual os candidatos do PT não estão "em muito boas condições" nas pesquisas nas principais capitais do país é o "cansaço" dos eleitores em relação às "administrações petistas".

Questionado sobre a declaração do presidente nacional do PT, Rui Falcão, que também em Porto Alegre disse que o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, é "relutante" em abordar o assunto contra o petista Fernando Haddad por temer "respingos" do "mensalão mineiro" (que envolveu supostos desvios de recursos na campanha do ex-governador tucano Eduardo Azeredo), Aécio disse ter "pouca informação" sobre as investigações: "Mas na hora em que chegar o momento, acho que devem ser julgadas também e todos terão o direito de se defender."

Para Rui Falcão, o "uso político permanente" do julgamento do mensalão feito pela oposição ao partido tem provocado impactos limitados sobre as candidaturas petistas na eleição deste ano. A exceção, disse, foi em Osasco, onde ex-deputado João Paulo Cunha desistiu da candidatura depois de ser condenado no Supremo Tribunal Federal (STF).

"Pelas pesquisas que temos, com exceção de Osasco, nenhuma das cidades mostra qualquer influência [do julgamento] na decisão de voto até o momento, pelo menos [que seja] mensurável", disse o dirigente. Segundo ele, mesmo com o início do julgamento do chamado núcleo político do mensalão, o PT manterá a estratégia de apresentar as "propostas" para as cidades, "sem entrar no jogo de baixaria dos adversários".

Segundo Aécio, "lamentavelmente" para os petistas é que o julgamento no STF está revelando que muitos líderes da sigla estão "envolvidos em algo que o PT sempre negou". Para ele, a nota divulgada na semana passada pela direção nacional do PT e de partidos aliados criticando a revista "Veja" pela publicação de uma matéria que liga o mensalão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi "absolutamente ridícula". "[É] como se houvesse a possibilidade de um golpe de Estado contra um ex-presidente da República", ironizou.

O senador disse ainda que tem conversado "por telefone" com Serra, que disputa com Haddad, uma vaga no segundo turno em São Paulo. Segundo ele, há um "otimismo controlado" em relação ao desempenho do tucano na capital paulista, depois que as últimas pesquisas de intenção de voto demonstraram uma "estabilização" do candidato.

Adversário já tradicional de Serra na indicação do candidato do partido nas eleições presidenciais, Aécio disse ainda que está "à disposição" para colaborar com a campanha em São Paulo. "Mas hoje [ontem] sigo para Brasília e a partir de quarta-feira [amanhã] inicio um roteiro que começa por Alagoas, Paraíba, Bahia, Pernambuco, Piauí, Amazonas e por aí afora", ressalvou.

O senador também comentou a possibilidade de o governador de Pernambuco, Eduardo Campo, disputar a eleição presidencial de 2014. "O surgimento de outras candidaturas é possível, mas obviamente elas é que poderão falar sobre isto", disse. Mesmo assim, afirmou que o PSDB continuará a ser o principal "polo de oposição" ao governo do PT.

Aécio esteve em Porto Alegre, onde, na companhia da ex-governadora Yeda Crusius, gravou depoimentos para programas eleitorais de candidatos do partido a prefeito e a vice em dez cidades, incluindo Wambert Di Lorenzo, que oscila entre a quinta e a quarta colocação nas pesquisas na capital gaúcha. Depois, seguiu para Pelotas, no sul do Estado, prestar apoio ao candidato local.

O presidente do PT, por sua vez, esteve m Porto Alegre para assinar uma "carta-compromisso" com candidatos do partido na região metropolitana de Porto Alegre, na qual eles prometem realizar ações conjuntas em áreas como segurança, saneamento, saúde, mobilidade urbana e cultura. Ele também procurou demonstrar confiança na reação do petista Adão Villaverde, que segue em terceiro lugar nas pesquisas em Porto Alegre, distante do prefeito José Fortunati (PDT), que lidera os levantamentos, e de Manuela D"Ávila (PCdoB), que se mantém em segundo lugar.