Título: Nordeste recebe menos recursos do BNDES
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Brasil, p. A4

Os números dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), uma das principais amostras da distribuição regional dos investimentos no país, mostram que ao longo dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e dos quatro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não houve nenhuma melhora na repartição relativa das inversões entre a região mais rica, o Sudeste, e a mais carente, o Nordeste. Ao contrário, houve até uma piora, apesar do enorme crescimento dos valores absolutos repassados para todas as regiões. Esses valores passaram de R$ 7 bilhões em 1995 para R$ 50 bilhões previstos para este ano, ou R$ 47 bilhões efetivamente desembolsados no ano passado.

Em 1995, primeiro ano do governo FHC, o Nordeste ficou com R$ 996,2 milhões dos R$ 7 bilhões emprestados, equivalentes a 14%, enquanto o Sudeste recebeu R$ 3,4 bilhões, correspondentes a 48,5% do total. Em 2002, último ano do governo passado, o Nordeste ficou com 10,1% dos desembolsos totais de R$ 37,4 bilhões, enquanto o Sudeste recebeu 61,6% do total, correspondentes a R$ 23 bilhões.

A trajetória descendente dos empréstimos para o Nordeste prosseguiu nos dois primeiros anos do governo Lula, chegando a 6,8% dos R$ 39,8 bilhões desembolsados em 2004, enquanto o Sudeste ficava com 53,4%, perdendo participação para o Centro-Oeste no auge do "boom" do agronegócio. Neste ano, de janeiro a setembro, a relação já está muito próxima daquela do final do governo FHC, com 9,75% para o Nordeste e 60,6% para o Sudeste.

As demais regiões também possuem patamares mais ou menos definidos de captação de recursos do BNDES, com oscilações periódicas, de acordo com momentos vividos por cada economia regional. A região Norte, fronteira mineral (Carajás), tem sua maior freqüência na casa dos 3% dos empréstimos, com oscilações que vão de 1,95% em 1997 a 5,02% em 2002.

A região Sul tem seu patamar em torno de 20%, com oscilações acima de 24% em 1995 e 1996 e 16,3% em 1998 e 2002. O patamar da fronteira agropecuária do Centro-Oeste fica em torno de 7%. Durante o forte incremento do agronegócio de 2003 e de 2004, a região recebeu, respectivamente, 8,44% e 12,95% dos recursos do BNDES. Mas em 1996, os números não passaram de 5,41%.

Os números da evolução do Produto Interno Bruto (PIB), medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que por enquanto vão apenas até 2003, ainda não captam tudo que ocorreu durante o governo Lula, quando, empréstimos do BNDES à parte, os financiamentos do Banco do Nordeste multiplicaram-se por sete. Os números do PIB mostram que de 1994 a 2003 o crescimento do Nordeste andou atrás da taxa de incremento da economia do país. No período, a economia nordestina cresceu 24%, contra 26% do PIB brasileiro.

Nos mesmo período, a economia do Sudeste também cresceu abaixo da média (21%), mas é o Nordeste que mais precisa correr atrás da defasagem. As maiores taxas de crescimento nesses dez anos foram registradas nas duas regiões de fronteira. O Norte mineral cresceu 60% e o Centro-Oeste agropecuário, 42%. A região Sul teve crescimento ligeiramente acima da média (28%).

O diretor da Área de Crédito e de Inclusão Social do BNDES, Elvio Gaspar, concorda que não há evolução positiva no combate à desigualdade dos investimentos nos últimos anos e afirmou que a instituição está preocupada com essa situação, buscando caminhos para tentar revertê-la. "De fato, é uma questão (a da desigualdade dos empréstimos) com a qual estamos bastante envolvidos. No banco, alinhados com o governo federal, reconhecemos que desenvolvimento sustentado não é só reduzir a desigualdade entre as pessoas, mas também entre as regiões", afirmou.

Segundo Gaspar, a avaliação do banco é de que as regiões têm mostrado, ao longo do tempo, patamares bem definidos de captação dos recursos, com oscilações que, na maioria dos casos, estão relacionadas com a existência de um ou outro projeto demandando recursos mais volumosos em uma ou outra delas. Ele admite que mesmo a evolução positiva dos números do Nordeste nos dois últimos anos (2005/06) "está longe de mostrar uma tendência firme".