Título: DF aquém do esperado
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 18/11/2010, Economia, p. 17

Resultado pífio do comércio fez com que PIB do Distrito Federal crescesse 3,8% em 2008. Codeplan calculava expansão de pelo menos 4%. Alta da atividade industrial foi a menor desde 2004

Apesar de ter apresentado o sexto pior desempenho do país, o Produto Interno Bruto (PIB) do Distrito Federal cresceu 3,8% em 2008, frente a 2007. As projeções feitas por economistas da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) indicavam um avanço de pelo menos 4% no período. Mesmo sem provocar tantos estragos, a crise econômica mundial, que estourou no fim daquele ano, freou o ritmo das atividades locais. O percentual abaixo do esperado se deve, em grande parte, ao resultado do comércio, abalado pela desconfiança do consumidor. O segmento, que havia registrado em 2007 um salto do PIB na ordem de 10,9%, amargou no ano da crise uma pífia variação de 2,4%.

A economia do DF continua fincada no setor de serviços ¿ responsável por 93,3% da renda produzida em 2008 ¿, o que a tornou mais vulnerável aos efeitos da bolha mundial. Nos últimos três meses daquele ano, o estado de alerta provocado pelas incertezas retraiu o consumo e conteve a euforia da ampliação da massa salarial e das facilidades de financiamento. ¿Até perceber que o mundo não tinha acabado, o consumidor parou de comprar, ainda que a renda e o emprego não tivessem sido tão afetados pela crise¿, recorda o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF), Adelmir Santana.

A indústria brasiliense, cujo principal cliente é o governo, teve, em 2008, o menor crescimento do PIB desde 2004. O presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Antônio Rocha, conta que as dúvidas surgidas no auge da crise ¿tiraram a tranquilidade¿ dos empresários. ¿Só não sentimos tanto como em outros estados porque ainda não temos uma vocação industrial muito forte¿, compara Rocha. A indústria, em 2008, respondia por 6,3% da economia local. A agropecuária, com 0,4% de participação no PIB, não influenciou no valor total. Em valores correntes, o PIB do DF alcançou R$ 117,6 bilhões, o equivalente a 3,9% do montante nacional.

Setor público Na terra do funcionalismo, a administração pública correspondeu a 53,6% da riqueza produzida no DF. É, disparado, o segmento com maior peso na economia local. Graças a ele, aliás, o setor de serviços predomina na estrutura produtiva. Na avaliação de técnicos da Codeplan, o PIB se segurou na estabilidade e nos altos salários dos servidores, protagonistas do giro da renda no período, ainda que de maneira mais contida se comparado com anos anteriores. Sem eles, defendem os economistas, os números poderiam ter sido desastrosos. Também por conta do caráter administrativo, Brasília liderou, mais uma vez, o ranking do PIB per capita, que atingiu R$ 45.978, quase o triplo da média nacional.

Economista da Codeplan, Carlos Reis diz que, no DF, a ¿marola não foi suficiente para levar o barco a pique¿. A crise iniciada nos Estados Unidos mexeu com todo o sistema produtivo candango, mas, sustenta ele, esbarrou na segurança proporcionada pelo funcionalismo público. ¿A marola não fez entrar água no barco¿, completa, no embalo da metáfora, a diretora do órgão, Eliane Cunha. A cautela do empresariado e do consumidor, acrescenta ela, arrefeceu investimentos e compras. ¿Foi a administração pública que nos segurou¿, decreta.

Ao mesmo tempo em que a massa de servidores, sustentada na tal estabilidade, salvou o DF do pior, a reação desse mesmo contigente diante da crise foi que empurrou para baixo o avanço do comércio e segurou o PIB. ¿Não tem jeito: o servidor é o nosso fiel da balança e isso não vai mudar¿, comenta a também economista da Codeplan Sandra Regina Andrade Silva. ¿Nos últimos meses de 2008, a população do DF se retraiu. Ninguém sabia ao certo o que iria acontecer. Por isso todo mundo segurou a mão na hora da compra¿, lembra. ¿Mesmo assim, o desempenho não foi ruim¿, defende Sandra.

RECUO Desde 2005, o PIB do DF apresentava crescimento sobre o período anterior. Naquele ano, o salto foi de 5,2%. Em 2006, de 5,4% e, em 2007, de 5,9%. Depois do recuo para 3,8%, em 2008, técnicos da Codeplan preveem um percentual entre 1,5% e 1,9% no ano pós-crise. Entre 2004 e 2008, o PIB brasiliense acumulou crescimento de 27,9%, com média anual de 5%.