Título: Em campanha por Lula, Marinho já cogita disputar S.Bernardo
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Política, p. A8

No fim de uma caminhada de mais de uma hora pela principal rua comercial de São Bernardo do Campo em busca de votos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, foi abordado por um senhor de camiseta vermelha e boné com o estrela do PT. "Vamos trabalhar pela prefeitura, hein, ministro?", perguntou o homem. "Vamos, vamos, se essa for a vontade do povo", respondeu o ex-sindicalista ao fim de um dos muitos eventos de que participou durante os dez dias que tirou de licença para trabalhar na campanha de Lula.

Depois de presidir o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de concorrer pelo Partido dos Trabalhadores (PT) a vice-governador de São Paulo na chapa encabeça por José Genoino, Marinho quer agora ser prefeito da cidade onde começou e consolidou sua trajetória como sindicalista. Embora não explicite essa vontade, membros do diretório do PT de São Bernardo do Campo já dão como certa sua indicação à prefeitura em 2008.

Seus possíveis concorrentes ao posto de candidato pelo PT seriam o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, e a deputada estadual Ana do Carmo. Para Antônio da Nóbrega Santos, da coordenação do diretório do PT da cidade, Marinho, no entanto, é consenso. "Já existe um acordo entre os movimentos sociais e o partido de que, com a reeleição de Lula, ele é o candidato", explicou Santos.

Embora São Bernardo ainda seja um reduto de fábricas do setor automobilístico e, conseqüentemente, abrigue muitos metalúrgicos, ela não é mais a cidade operária das décadas de 70 e 80. A Volkswagen, por exemplo, chegou a ter 40 mil empregados. Hoje, emprega 12,5 mil trabalhadores e, até 2008 esse número será reduzido para 8,8 mil. "Há uma resistência ao PT por conta da composição social, pois ela é uma cidade de classe média", argumenta João Guilherme Vargas Neto, consultor sindical.

Mesmo assim, o presidente Lula teve uma expressiva votação na cidade, com 48,6% dos votos nesse primeiro turno. Seu adversário Geraldo Alckmin também não fez feio e chegou a 41,6%. Porém, somente uma vez os moradores de São Bernardo do Campo elegeram um prefeito do PT. Isso foi em 1988, quando Maurício Soares, antes advogado dos Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ganhou a eleição. Em 1997, Soares voltou à prefeitura, mas, desta vez, pelo PSDB.

A popularidade de Vicentinho também não foi suficiente para garantir a vitórias nas urnas. O deputado perdeu as eleições para Soares em 2000 e, em 2004, para o atual prefeito, William Dib (PSB). "Ele tem um bom perfil para parlamentar, mas não para prefeito", avalia Santos, do diretório do PT. Neste ano, ele foi o segundo deputado mais votado na cidade, atrás de Edinho Montemor, do PSB, aliado de Dib.

Para concorrer à prefeitura, Marinho terá de deixar o cargo de ministro do Trabalho, no qual só poderá permanecer se Lula se reeleger no dia 29. Em uma possível segunda gestão, o ex-presidente da CUT teria uma tarefa árdua pela frente: conciliar os interesses do capital e do trabalho na aprovação das reformasfazer com que as reformas sindical e trabalhista.

Hoje ele é a única liderança importante do movimento sindical que restou no governo federal. Osvaldo Bargas, ex-secretário-executivo do Ministério do Trabalho, caiu por conta do dossiê para incriminar os tucanos. O mesmo aconteceu com Ricardo Berzoini, ex-bancário que, depois de ser ministro da Previdência e do Trabalho, deixou recentemente a coordenação da campanha de Lula à reeleição.

Luiz Gushiken foi outro alvo. Ex-secretário-executivo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, teve rebaixado seu status de ministro para secretário, em julho de 2005, em meio a acusações contra sua gestão da verba publicitária do governo.

E Marinho está afiado. Durante a caminhada não se cansou de citar números sobre o crescimento do emprego, da massa salarial e da renda nos quase quatro anos do governo Lula. Falou sobre "o fim do endividamento externo e a queda do risco-país". Seus cabos eleitorais elogiam sua capacidade de mobilização social e de articulação política, num trajetória que segue os passos de Lula.