Título: Empresas incrementam produção para enfrentar importados
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2007, Especial, p. A20

O aumento expressivo do consumo de máquinas e equipamentos é um sinal de que as empresas estão se preparando para atender a demanda e produzir de forma mais barata e eficiente, avalia Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo ele, é um passo fundamental para as companhias enfrentarem em melhores condições a concorrência do produto importado.

Nesse processo de modernização, tem destaque a importação de máquinas e equipamentos. Números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) mostram que, no ano passado, as quantidades importadas de bens de capital aumentaram 24% em relação a 2005. "Esse é o lado positivo do câmbio valorizado", diz o economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados.

O aumento de importações também foi generalizado. As compras de maquinaria industrial, por exemplo, aumentaram nada menos que 24,88%, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento. A única das 12 subcategorias que registrou queda, de 24,74%, foi a de máquinas e ferramentas. Para Fenolio, a absorção de novas tecnologias é um dos pontos positivos da alta de importações. "Isso é importante por aumentar a produtividade das empresas."

Pereira diz que a expansão simultânea da fabricação doméstica e da importação de bens de capital leva a um aumento na capacidade de oferta, o que pode fazer a demanda e a produção andarem a um ritmo mais próximo do que em 2006. No ano passado, o consumo cresceu a um ritmo superior ao da produção industrial, com a diferença sendo suprida por importações maiores, diz Pereira. Com a aquisição de máquinas e equipamentos, as empresas podem fazer frente a uma demanda maior e, como ganham eficiência, têm mais possibilidades de brigar com o concorrente estrangeiro.

O aumento do consumo aparente de máquinas e equipamentos teve uma contribuição importante para a expansão da formação bruta de capital fixo (FCBF) em 2006, estimada em 6,7% pelo economista Bráulio Borges, da LCA Consultores. "É uma boa notícia para a política monetária, porque indica que a capacidade instalada está crescendo." A construção civil, que responde por pouco mais de 60% da FBCF, cresceu 4,5% no ano passado, estima ele - o consumo de máquinas e equipamentos equivale ao restante.

Borges acredita que o investimento deve continuar em alta em 2007, por apostar na continuidade da queda dos juros e do crescimento da demanda e no recuo do risco-Brasil. Ele estima que a FBCF pode avançar 10% neste ano. Fenolio é mais cauteloso, e espera alta de 6,5%.

Pereira, que não faz previsões para a variação da FBCF em 2007, considera que a continuidade do investimento a taxas aceleradas, registrado no ano passado, fica de algum modo condicionada à condução da política monetária. Para ele, a decisão do Banco Central de reduzir o ritmo de corte da taxa Selic pode levar os empresários a reavaliar o cenário de juros em baixa e expansão mais forte da demanda, crucial para que as empresas mantenham a disposição de investir. (SL)