Título: Demanda por bens de capital se mantém aquecida em 2007
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2007, Especial, p. A20

O processo de ampliação da capacidade instalada na economia brasileira, que ganhou ímpeto em 2006, manteve-se forte no começo de 2007. Em janeiro e fevereiro, empresas fabricantes de máquinas e equipamentos para fins industriais continuaram com a produção aquecida. Para atender à demanda, algumas cancelaram férias coletivas na virada do ano e outras estão abastecendo seus clientes com máquinas importadas. A carteira de encomendas já ocupa, em alguns casos, o dobro da média histórica.

Em 2006, tanto a produção como a importação de bens de capital cresceram com força e impulsionaram o investimento na economia. A fabricação doméstica aumentou 5,7%, enquanto as compras externas avançaram 24%. Estimativas da LCA Consultores mostram um crescimento de 10,3% no consumo aparente de máquinas e equipamentos no ano passado, calculado pela soma da produção e das importações de bens de capital, excluindo as exportações (que caíram 0,6% em 2006). Esse ritmo de 10,3% é quase cinco vezes maior que os 2,1% registrados em 2005.

A mineira Delp Serviços Industriais aumentou sua carteira de encomendas em 40% em janeiro e espera que em fevereiro os pedidos cresçam ainda mais. Petrônio Zica, presidente da empresa, conta que sua produção começou a ficar mais aquecida a partir de outubro do ano passado. "Foram muitas encomendas e, pela primeira vez desde 2002, suspendi as férias coletivas". Em 2006, o faturamento da empresa cresceu 15%. Com esse começo de ano animado, Zica acredita que será possível faturar 20% em 2007.

Segundo Zica, as indústrias que têm demandado mais máquinas e equipamentos são as de mineração e petróleo. Ele diz que nessa área, diferentemente do que ocorre na siderurgia, a produção brasileira não está sendo atrapalhada pela concorrência dos importados. "Além de a Petrobras comprar máquinas nacionais, a demanda mundial por equipamentos para o setor petrolífero está muito alta e os fornecedores de fora estão atendendo outros países", explica. A Delp fabrica equipamentos como torres de liquefação e vasos de pressão, além de máquinas para auxiliar a perfuração.

Os dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para este começo de ano são animadores. Em janeiro, o programa de financiamento de máquinas e equipamentos do banco, o Finame, apresentou um crescimento de 11% nos desembolsos na comparação com o mesmo mês de 2006. Em janeiro do ano passado, os empréstimos foram de R$ 923 milhões, enquanto neste último mês eles ficaram em R$ 1,027 bilhão. "É um ritmo bom para um começo de ano", avalia Cláudio Bernardes Guimarães de Moraes, superintendente de operações indiretas do BNDES.

Esses números levam em conta os desembolsos para aquisição de máquinas, equipamentos, ônibus e caminhões, mas não contabilizam as máquinas e equipamentos agrícolas. Ao longo de 2006, essa linha de financiamento emprestou R$ 11,4 bilhões, uma alta de 16,4% em relação a 2005. O total do Finame, que contabiliza também as máquinas agrícolas, teve um crescimento menor: 7,5%, já que a procura por esses bens foi fraca.

Mas no último trimestre do ano passado os desembolsos para equipamentos agrícolas mostraram recuperação e avançaram 5,7% em relação a 2005. "Estamos otimistas com 2007. A agricultura deve ter um desempenho melhor e demandará máquinas, implementos e também meios de transporte", explica Moraes.

A fabricante de compressores para processos industriais, a sueca Atlas Copco registrou significativo aumento no volume de encomendas este ano. Sua carteira de pedidos está tomada para os próximos três meses, dobro da média histórica. "A intenção de compra está bem maior do que em 2006", afirma o gerente-geral da empresa no Brasil, Carlos Frateschi. Segundo ele, as indústrias estão investindo mais em aumento de produtividade do que em expansão. "São aportes em ganho de eficiência, represados desde 2005", diz.

O segmento de mineração é o que mais impulsiona os negócios da companhia. Em 2006, as vendas para mineradoras cresceram 30% e a expectativa este ano é crescer mais 20%, impulsionadas pelo aquecimento da demanda global por minério de ferro e metais como cobre e alumínio.

Além da alta da produção de bens de capital ter sido robusta, Bráulio Borges, da LCA Consultores, ressalta que ela foi disseminada entre as diversas subcategorias. A fabricação de bens de capital para fins industriais, por exemplo, cresceu 5,3% no ano passado. Dentro desse grupo, os bens não seriados cresceram 6,86%. Como são feitos sob encomenda, o interesse pelos não seriados indica uma decisão mais forte de investimento, diz Borges. Para Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a produção desses bens está mais ligada a projetos de maior magnitude.

Pereira também chama a atenção para a expansão de 11,55% registrada pela fabricação de bens de capital de uso misto. "Eles são usados em mais de um setor e não têm um uso específico. Isso também sugere algo mais disseminado", diz o economista. Borges nota que as subcategorias que tiveram queda em 2006 se recuperaram em dezembro. A produção de bens de capital agrícolas caiu 16,46% no ano passado, mas subiu 26,6% em dezembro, na comparação com o mesmo mês de 2005.

E neste ano, essa disseminação tende a continuar. A expectativa de Frateschi, da Atlas Copco, é que diferentes setores da indústria - como automotivo, plástico, químico, alimentício e óleo e gás - deverão aumentar suas encomendas de compressores em 15% este ano. Para atender o crescimento, a fábrica da empresa em Barueri (SP) está ampliando o ritmo de nacionalização de produtos. Desde 2005, a média anual passou de 11 para 14 novos equipamentos produzidos com componentes nacionais.

A área de ferramentas industriais deve ganhar novo fôlego com investimentos de montadoras de veículos e da Embraer. A Atlas importa da Suécia este tipo de equipamento, como apertadeiras de porcas de parafusos, que também são utilizados por fábricas de eletrodomésticos, autopeças e fundições.

A francesa Imaje, que produz equipamentos de codificação industrial de embalagens, planeja vender 890 máquinas no Brasil este ano, aumento de 14% em relação ao ano passado. O presidente da empresa no país, Márcio Caillaux, afirma que os pedidos em janeiro e fevereiro superaram em 70% o volume do mesmo período em 2006, o que obrigou a unidade brasileira a aumentar as importações. "Nosso estoque era suficiente para metade dos pedidos feitos", diz.

Seus principais clientes são indústrias alimentícias como Nestlé, Kraft e Sadia, além do setor de higiene, como Procter & Gamble e perfumaria, como Boticário. Essas indústrias usam codificadoras para facilitar o rastreamento de produtos. Além do câmbio favorável para a importação, o executivo atribui o aumento a expansões e atualizações nas empresas.

O mesmo movimento, porém, não tem ocorrido no setor siderúrgico. A forte concorrência com produtos importados reduziu a procura pelos nacionais. Segundo Zica, da Delp, devido à valorização cambial, as máquinas importadas saem entre 30% e 40% mais baratas dos que as que sua empresa fabrica.

Problema semelhante vive a SMS Demag, de Vespasiano (MG). Há dois anos a empresa encara um baixo nível de ocupação de suas instalações e caminha na contramão da euforia da indústria de máquinas, apesar do grande número de projetos anunciados nos últimos dois anos pelos fabricantes de aço.

O dólar barato e os preços competitivos levaram as siderúrgicas a buscar equipamentos da China. Há dois anos a Gerdau fez encomenda de mais de US$ 200 milhões a uma companhia chinesa. A CSA, projeto da alemã ThyssenKrupp no Rio de Janeiro, também busca maquinário na Ásia. "O fim de mecanismos de drawback atrapalhou bastante nossa atividade", comenta Roberto Araújo, gerente comercial da Demag.

Na Romi, outra empresa que fabrica máquinas, a receita líquida cresceu 7,5% em 2006 na comparação com o ano anterior. O volume de máquinas-ferramenta vendidas subiu 10,1% no período, enquanto o de máquinas injetoras de plástico se expandiu 46,4%. Apesar de vender para o setor siderúrgico, seus modelos não foram impactados pela concorrência chinesa. Segundo Hiçao Misawa, diretor da área de máquinas-ferramenta, o setor de autopeças foi o carro-chefe no ano passado. Nesse começo de ano, ele conta que as encomendas estão em níveis próximos aos do mesmo período de 2006. (Colaborou Patricia Nakamura)