Título: Alckmin diz que diferença é menor
Autor: Fontoura, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Política, p. A10

A sete dias da eleição, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, criticou as pesquisas e disse acreditar que poderá reverter o resultado das previsões até domingo, quando se realizam as eleições presidenciais. Em entrevista ao programa "Roda Viva", gravada ontem à tarde na TV Cultura em São Paulo, Alckmin apontou erros de metodologia nas pesquisas.

Segundo ele, os levantamentos do PSDB mostram uma diferença menor, de oito ponto, em vez dos 20 apontados pelos institutos de pesquisas. "No primeiro turno, as pesquisas diziam que não ia ter segundo turno e que eu não teria mais que 29% dos votos. Eu tive mais de 40%", disse ele, lembrando que os institutos erraram na Bahia, onde Jaques Wagner (PT) ganhou no primeiro turno, e no Rio Grande do Sul, que elegeu Yeda Crusius (PSDB), que aparecia em terceiro lugar.

"A pesquisa que vale é de domingo, dia 29", disse Alckmin. "Acredito que esta eleição não está decidida e grandes mudanças ocorrem na última semana." A entrevista, que durou uma hora e meia, foi ao ar ontem, às 22h30.

A disparada de Lula após o primeiro debate promovido pela TV Bandeirantes no último dia 8, segundo Alckmin deve-se ao longo período antes do reinício da campanha. "Levou 12 dias para retomar o segundo turno. Campanha é rádio e televisão... levou 12 dias para começar, você esfria", reclamou.

O candidato tucano negou que a campanha tenha tido problemas decorrentes de divergências do partido ao longos dos últimos meses. Questionado sobre se o apoio de Anthony Garotinho o teria atrapalhado no início do segundo turno, Alckmin disse: "Eu não apoiei Garotinho, ele me apoiou".

O ex-governador admitiu ter sido pego de surpresa, no início da campanha para o segundo turno, com a insistência na discussão sobre a privatização de estatais como Caixa Econômica Federal, Petrobras e Correios. Para ele, a questão das privatizações foi levantada de forma mentirosa. Considerou a atitude "jogo sujo" de Lula. "Não posso imaginar que alguém que é presidente da República não tenha nenhum compromisso com a verdade", disse Alckmin. "Primeiro, a privatização feita é correta. Veja o caso da telefonia. O que eu reagi foi à mentira, à campanha jogo sujo." "Privatizar mais não é a nossa prioridade", afirmou o candidato, que insistiu na tese de que pretende apenas "reestatizar" as empresas estatais federais porque elas foram "privatizadas" pelo PT. Mencionou irregularidades do governo no Banco do Brasil (Visanet), Caixa Econômica (GTech e o caso Francenildo) e Petrobras (GDK, que teria presenteado o secretário-geral do PT, Silvio Pereira, com veículo da marca Land Rover), e no Correios que foi alvo de uma CPMI.

Segundo ele, durante o governo Lula houve mistura de interesses estatais e privados. Ele disse que muitos "companheiros" (petistas e amigos de Lula) foram colocados em cargos públicos.

O presidenciável bateu nas teclas da ética, ao atacar o governo, e do baixo índice de crescimento do país. "Se o primeiro mandato termina mal do ponto de vista ético, o país não cresce, o governo não funciona e o presidente diz que não vai cortar gastos. Para que esperar mais quatro anos?", disse.

Indagado sobre como e quando fará os cortes, o ex-governador de São Paulo afirmou que não vai cortar na área social. "Governar é escolha. O Brasil precisa crescer, ter emprego, diminuir a informalidade e combater a fraude e a injustiça social", disse. "A finalidade do ajuste nos gastos é diminuir a pobreza, melhorar a educação e a saúde."

Na conversa com jornalistas no intervalo das gravações, afirmou que, caso eleito, vai cortar de imediato US$ 3,5 bilhões da corrupção e desperdício, vai aumentar a eficiência e, como medida estrutural, vai colocar um teto para despesa corrente. "Nos próximos anos, o PIB sobe, mas o gasto corrente não vai ter aumento e essa é a forma para chegar ao déficit zero em quatro anos", explicou. Na entrevista, porém, admitiu que o processo pode durar mais de quatro anos.

Mais uma vez o candidato não se comprometeu com reforma da Previdência. Disse que vai zerar o déficit público nominal ao longo de quatro anos e que vai cortar gastos para reduzir a carga tributária.

Quando perguntado como vai governar com só 130 votos, juntando PSDB e PFL, e se não teria de recorrer aos partidos mensaleiros, Alckmin disse: "A política não é só isso", referindo a deputados envolvidos em compra de votos. "Não precisa comprar ninguém". "O PT e o Lula escolheram o que há de pior na política brasileira", disse o candidato, mencionando nominalmente deputados Jader Barbalho (PMDB) e o ex-governador Newton Cardoso (PMDB).

O candidato disse ainda que, caso não seja eleito, a oposição não será branda com o presidente Lula depois das eleições. "O PT não pode exigir da oposição impunidade (...), querer que a oposição seja conivente", disse. Alckmin afirmou que continuará a cobrar explicações sobre os escândalos e acusações de corrupção que envolvem membros próximos a Lula e a seu governo.

"Quem ganha governa, quem perde fiscaliza. Não querer que se fiscalize, é não ter apreço pela democracia", disse Alckmin, em entrevista após a gravação.

O presidenciável também acusou o Partido dos Trabalhadores de ter "viés autoritário", ao ser indagado sobre uma possível trégua entre o PT e o PSDB. "Nós (PSDB e PT) tendemos a ser dois grandes partidos. Nos Estados Unidos, por exemplo, tem dois grandes partidos (...) mas o PT tem um viés autoritário", acusou.

Numa conversa informal com jornalistas após a gravação do programa, Alckmin disse que a disputa política acaba no dia 29. "Depois disso temos de pensar no país".