Título: Empresas têm dificuldade de cumprir conteúdo local
Autor: Duarte , Soraia
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2012, Especial, p. F2

As empresas fornecedoras da indústria de petróleo e gás que quiserem desenvolver soluções inovadoras para o setor já podem acessar uma linha de crédito específica para esse fim. No último dia 17, foi lançado o primeiro edital do Programa Inova Petro, fruto de uma parceria entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Petrobras. Até 2017, conta Mauricio Syrio, chefe do Departamento de Petróleo, Gás e Indústria Naval da Finep, o programa pretende destinar, a empresas desse segmento, recursos que somarão R$ 3 bilhões. Metade desse valor será bancado pela Finep. Os outros 50%, pelo BNDES. A Petrobras dará suporte técnico ao projeto.

Syrio explica que o programa está voltado a projetos offshore, mais exatamente a tecnologias relacionadas a processamento de superfície, instalações submarinas e de poços. Segundo ele, as empresas europeias e americanas detêm, hoje, a maior parte das tecnologias necessárias nessas atividades. "O pré-sal é a janela de oportunidade para as empresas brasileiras darem um salto tecnológico e passarem a competir globalmente."

Mas há, também, outra preocupação, que é a questão do conteúdo local, política adotada no setor de petróleo e gás, desde 2003, para ampliar a participação da indústria nacional no fornecimento de bens e serviços. "É preciso aumentar a capacidade local de inovação para que a indústria possa cumprir a meta de produzir conteúdo local", alerta.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), o percentual de conteúdo local, em cada atividade, varia de acordo com os leilões. Desde 2005, a partir da 7ª Rodada, os percentuais se mantiveram. Para a exploração em águas com profundidade maior que 100 metros, por exemplo, o conteúdo local deve responder entre 37% e 55% dos insumos utilizados na atividade. Já em terra, essa participação aumenta, devendo ser de 70% a 80%.

Atender a essas exigências, na opinião dos entrevistados pelo Valor, é o desafio da indústria de petróleo e gás. Para superá-lo, diz Syrio, da Finep, "recomendamos que as empresas façam parcerias com as estrangeiras, com universidades, ou que se insiram em centros de tecnologia".

É o que tem feito a Petrobras. A estatal mantém parceria com mais de 100 instituições brasileiras de pesquisa e tecnologia. "Nossa atividade requer conhecimento em quase todas as áreas", diz Luís Cláudio Costa, gerente de relacionamento com a comunidade de Ciência e Tecnologia do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), braço da estatal responsável por pesquisa e desenvolvimento. "Impossível fazer desenvolvimento apenas dentro da empresa, com recursos próprios."

Desde 2006, a Petrobras investiu mais de R$ 3 bilhões nessas parcerias, o que inclui os R$ 620 milhões previstos para este ano.

A Petrobras também mantém parcerias com fornecedores. Essa lista inclui 19 empresas. Entre elas, a BG Brasil, que está erguendo um Centro Global de Tecnologia em área vizinha ao Cenpes. "A Petrobras é nosso maior parceiro", comenta Hugues Corrignan, gerente de Tecnologia da BG Brasil. Até 2025, a BG prevê investimentos de mais de US$ 2 bilhões em P&D no país, o que inclui a construção do centro, cuja inauguração está prevista para 2013.

"Nosso modelo de pesquisa é baseado em parcerias com fornecedores e universidades", diz.