Título: Blindagens e sondagens
Autor: Rothenburg, Denise; Cavalcanti, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 19/11/2010, Política, p. 2

Ministério da Fazenda Guido Mantega está confirmado. Para Dilma, é o ministro ideal. Não vai lhe fazer sombra nem contestar suas decisões para a área econômica. A presidente eleita foi convencida por Lula de que Mantega fez um trabalho positivo no auge da crise ¿ o Brasil foi um dos primeiros países a saírem das turbulências provocadas pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana. Também não tem fixação pela meta de superavit primário de 3,3% do PIB.

Banco Central Henrique Meirelles está praticamente fora. Para Dilma, o presidente do BC já cumpriu a missão nos oito anos em que comandou a instituição. A presidente eleita vê Meirelles como uma sombra em questões econômicas, sobretudo porque exige autonomia para definir a taxa básica de juros. Hoje, há dois nomes na mesa de Dilma para o comando do BC: Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, e Fábio Barbosa, presidente do Banco Santander e da Febraban. Dilma acredita que o BC precisa de alguém com trânsito no mercado. Caso nenhum dos dois aceite, a opção por ser por um nome técnico, o de Alexandre Tombini, diretor de Normas do BC.

Ministério do Desenvolvimento Armando Monteiro Neto é o nome mais forte para o cargo de ministro. Eleito senador por Pernambuco, Monteiro deverá ser nomeado para a pasta dentro da cota do PTB. É bem avaliado por Dilma e pelo presidente Lula. Deve ter papel fundamental na elaboração de medidas que deem maior competitividade à indústria.

Ministério do Planejamento Miriam Belchior é a mais cotada, pois Dilma quer transferir para a pasta a gestão de todas as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida. Para a presidente eleita, não há por que o Planejamento ficar só com a gestão da máquina pública e com o controle de servidores.

ESTATAIS E BANCOS

Caixa Econômica Federal A Presidência da instituição ficará com o PT, mas dentro da cota pessoal de Dilma. Embora a presidente da Caixa Econômica, Maria Fernanda Ramos Coelho, tenha bom trânsito com a presidente eleita, há o reconhecimento de que a instituição ganhou maior dimensão e a atual titular do cargo não está desempenhando o papel a contento. É grande a queixa dos prefeitos contra a Caixa. Dilma aceita dividir as vice-presidências com os partidos aliados, que já estão dentro do banco.

Banco do Brasil A Presidência também será ocupada por um nome da estrita confiança da presidente eleita, podendo também sair do PT. O atual presidente, Aldemir Bendine, deve ficar, no máximo, até fevereiro no cargo. Dilma aceita dividir as vice-presidências com os partidos aliados, que já estão dentro do banco.

Petrobras José Sérgio Gabrielli deve permanecer na Presidência da estatal por pelo menos dois anos. Dilma acredita que, devido à importância do pré-sal e do porte dos investimentos da Petrobras ¿ US$ 224 bilhões até 2014 ¿, é melhor não mexer com Gabrielli num primeiro momento. Depois, ele pode seguir para o governo da Bahia como secretário de estado e disputar a sucessão de Jaques Wagner. As diretorias entrarão no rateio político.

BNDES Luciano Coutinho deve ser mantido na Presidência da instituição. Ele era cotado para o Ministério da Fazenda, mas acabou preterido por Guido Mantega. Terá papel decisivo no financiamento de obras do PAC, especialmente a Usina de Belo Monte e o trem-bala.

Comunicações e Correios Toda a atual diretoria será demitida. O presidente da estatal será nomeado assim que Dilma escolher o ministro das Comunicações ¿ entre os cotados para a pasta está Antonio Palocci. Até agora, a opção será pelo preenchimento das diretorias dos Correios por técnicos. A estatal foi dilapidada ao ser dividida entre políticos.

Infraero Toda a atual diretoria será demitida. O futuro presidente será nomeado diretamente por Dilma, com a missão de abrir o capital da empresa em bolsa de valores. A estatal é fundamental para que o país não falhe na organização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. A ordem será tirar os aeroportos do país do atoleiro em que se meteram.

* Todos os cargos do Planalto serão de escolha da presidente eleita: secretaria-geral da Presidência da República, hoje ocupada por Luiz Dulci; Casa Civil, onde está Carlos Eduardo Esteves Lima; a chefia de gabinete da Presidência, onde despacha Gilberto Carvalho; e o Ministério de Relações Institucionais, sob o comando de Alexandre Padilha. Entram nesse lote ainda a Casa Militar e a Agência de Inteligência (Abin). Até o momento, a única aposta dos integrantes da equipe de transição é a nomeação de Giles Carriconde para a chefia de gabinete. Maria das Graças Foster é cotada para a Casa Civil ou para substituir Gabrielli na Petrobras.