Título: Risco ambiental coloca setor em alerta
Autor: Vasconcellos , Carlos
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2012, Especial, p. F4

O aumento da demanda por petróleo e gás e a expansão das fronteiras de exploração elevam a pressão quanto aos impactos ambientais gerados pela indústria em todo o mundo. O vazamento de milhões de litros de óleo em uma plataforma da BP no Golfo do México em 2010 aumentou a percepção global desse risco e custou bilhões de dólares à empresa britânica. No ano seguinte, em menor escala, o vazamento de três mil barris de petróleo no Campo do Frade, na Bacia de Campos, a 370 quilômetros do litoral do Rio, em área explorada pela Chevron, evidenciou o desafio ambiental da exploração na camada do pré-sal.

Para Marcos Panassol, sócio da PWC Brasil e líder da área de petróleo e gás da consultoria, a indústria está saindo de sua zona de conforto. "O risco é inerente às atividades da área, mas ao levar a exploração offshore em profundidades cada vez maiores e para locais cada vez mais distantes da costa, fica mais difícil conter e remediar eventuais acidentes", explica. "O primeiro efeito desse risco é o aumento no custo das operações, com a necessidade de equipamentos mais sofisticados, sistemas redundantes de segurança, estoques maiores de peças sobressalentes nas plataformas", enumera.

O custo dos seguros depois do acidente da BP, por sua vez, também subiu, mas não chega a representar um peso excessivo dentro da estrutura das empresas, afirma Panassol. "As apólices de seguro certamente são uma fonte de custos que afeta toda a cadeia, mas seu peso é apenas relativo", argumenta.

O consultor aponta o papel fundamental das entidades reguladoras para garantir a segurança dos novos empreendimentos sem inviabilizar os novos investimentos. "Não se pode ser nem restritivo demais, nem leniente", diz. "As regras devem ser flexíveis o bastante para incorporar novas práticas de segurança e acompanhar o avanço tecnológico do setor. O ideal seria conseguir esse alinhamento com as empresas antes do início dos projetos e despolitizar o debate ambiental."

Para Isnard Marshall Junior, coordenador do MBA em gestão de negócios em petróleo, gás e biocombustíveis da Fundação Getúlio Vargas, a boa gestão de riscos e os investimentos em tecnologia são aliados estratégicos das empresas de petróleo nesse novo cenário. Ele aponta as tecnologias de geoprocessamento como ferramentas para controlar os riscos ambientais da exploração offshore.

"O geoprocessamento contribui para a proteção dos oceanos, pois permite a identificação de áreas prioritárias de conservação, o monitoramento integrado e a simulação de situações de emergência, assegurando um planejamento integrado dessas zonas e sua proteção", diz Isnard. "Trata-se de uma tecnologia digital, que permite a coleta de informações (cartografia) espaciais, o armazenamento (mapas) e o tratamento e análise da informação, que ao final é excelente ferramenta de suporte a decisão nas respostas as emergências."

Isnard explica que hoje a indústria encara a responsabilidade ambiental sob o ponto de vista da gestão integrada de segurança, saúde e meio ambiente, em que a análise do ciclo de vida dos processos (exploração, produção, refino) e dos produtos (gasolina, diesel) é uma ferramenta importante na redução de riscos. "O foco está na prevenção e na potencialização de benefícios como o aumento do desempenho energético, da vida útil dos equipamentos e instalações, entre outros", diz. "Essa postura proativa no gerenciamento dos processos produtivos contribui fortemente para reduzir a percepção de risco entre investidores, acionistas e demais partes interessadas, o que por sua vez pode se traduzir em melhores condições de seguros."

Fernando Costa, presidente da Feralcom, empresa de engenharia de ponta em óleo e gás, diz que o fator ambiental pode ser vencido pelo avanço tecnológico na exploração de águas ultraprofundas. "A indústria se encontra na fase de adaptação de tecnologias antigas para essa nova fronteira", diz. "Essa é uma etapa natural antes da criação de novas soluções, porque precisamos gerar recursos para financiar esses desenvolvimentos, que vão eliminar os pontos vulneráveis da atividade de exploração."