Título: Lula vincula Alckmin aos interesses da elite e dos ricos
Autor: Agostine, Cristiane e Rahal, Manuela
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Política, p. A11

Na reta final da campanha do segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, reforçou o discurso de que o povo deverá escolher nas urnas entre um projeto para os ricos ou para os pobres. Em comício na periferia de São Paulo, ontem, Lula e seus aliados associaram o rival do PSDB, Geraldo Alckmin, como defensor dos interesses da elite, da privatização e disse que os ricos "não precisam do Estado". "De um lado está um projeto que só atende aos interesses da pequena elite, e do outro, um projeto para todos, com atenção especial aos pobres ".

Bem recebido no bairro de Cidade Tiradentes, onde teve 58,69% dos votos contra 30,63% de Alckmin, o petista disse que para alguns políticos "pobre só vale nas eleições". "Em época eleitoral, pobre vale mais do que banqueiro. Depois, não é convidado nem para tomar um cafezinho."

Ao relacionar as ações de seu governo, Lula prometeu "cuidar dos mais necessitados". "Porque o rico não precisa do Estado. Quem precisa é o pobre desse país. Quem precisa de universidade é o pobre. O rico pode pagar uma universidade ou pode até estudar em Paris. Mas o pobre, ou tem faculdade ou vai passar a vida inteira sem se formar". Em seguida, prometeu criar 300 mil bolsas universitárias.

Lula voltou a falar que foi "Deus quem quis o segundo turno" e ironizou seus adversários: "Ao invés de eles ficarem com raiva, deveriam pedir a Deus que eu ganhasse, para eu deixar o país melhor para um próximo governo".

Na mesma linha, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB) provocou Alckmin ao dizer que ele se parece com um personagem da propaganda do Itaú Personalité - segmento do banco para a elite. E completou: "O público para o qual Alckmin fala é aquele que se reúne para jogar tênis na Costa do Sauípe (resort de luxo na Bahia)." Aldo pediu respeito aos tucanos e defendeu uma campanha, "sem ódio, ressentimento ou preconceito".

A coordenadora da campanha do PT em São Paulo, Marta Suplicy, criticou a gestão tucana, há doze anos no governo paulista, por ter privatizado o Banespa, Eletropaulo, CTEEP, Ceagesp e Comgás. "Venderam tudo e deixaram um rombo. O grande administrador tucano aumentou a dívida de R$ 104 bilhões para R$ 140 bilhões."

Dividindo o mesmo palco com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Marinho (Trabalho), Matilde Ribeiro (Igualdade Racial), o ex-ministro Agnelo Queiroz, e o prefeito de Recife, João Paulo, estavam os cantores Netinho de Paula e Frank Aguiar, eleito deputado federal pelo PTB. Netinho classificou Lula como um "divisor de águas". "Nós que somos da mesma origem, temos que ter muito claro nosso vínculo", disse. Frank Aguiar lembrou do apagão de energia, na gestão FHC.

Na concentração do comício, a militância do PT fez uma guerra de bandeiras com cabos eleitorais do PSDB. Entre os petistas, a palavra mais ouvida contra a campanha tucana era privatização. "Vão privatizar a Amazônia", gritava um deles. Nas faixas, o pedido de reestatização de empresas: "A pátria não se vende. Retomar a Vale (do Rio Doce) urgente". Os militantes seguiram as palavras de Lula. No discurso, o presidente disse que seu governo não privatizará nenhuma empresa. "Senão, para que serve o governo? Um governo que não pode administrar nada? Não, nós queremos ter outro governo".

Lula ficará hoje em São Paulo, onde participará do penúltimo debate na televisão.