Título: Medial expande rede própria para reduzir custos com hospitais
Autor: Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 23/10/2006, Empresas, p. B1

Depois de captar em bolsa quase R$ 500 milhões no mês passado, a Medial partirá agora para uma ofensiva que não deve cair no gosto dos hospitais, laboratórios e centros médicos.

A operadora de saúde investirá R$ 200 milhões por ano na construção e na aquisição de uma rede própria de atendimento aos clientes até 2011. Parte dos recursos virá da oferta de ações e outra porção sairá da geração de caixa.

O objetivo é reduzir a dependência dos prestadores de serviços externos para tentar baixar as despesas. "Alguns atendimentos mais complexos chegam a custar o dobro quando feitos fora da rede própria", afirma Luiz Kaufmann, presidente da Medial.

Dos R$ 607,4 milhões de custos de serviços que a empresa teve no ano passado, 29% ocorreram dentro das instalações da Medial. A meta, segundo o executivo, é chegar a 50% nos próximos cinco anos. As despesas operacionais correspondem a quase 72% do faturamento da operadora. A margem de lucro foi de 3,6%. Por isso a Medial quer ser mais independente.

Nesta semana, a Medial inaugura o quarto hospital de sua rede. Essa unidade em Brasília exigiu investimentos de R$ 12 milhões. Ainda neste semestre também será aberto um centro de atendimento ambulatorial no Rio.

Além disso, a operadora pode comprar hospitais e laboratórios. Em seu prospecto, a Medial menciona que tem uma opção de compra do centro de diagnósticos Endomed, pertencente a seus controladores, por R$ 5 milhões.

Outros podem ser adquiridos, principalmente com o objetivo de incomodar seus atuais fornecedores. "Em alguns locais, Diagnósticos da América e Fleury têm o pleno controle de preços porque não há mais concorrência", explica Kaufmann. Por meio de aquisições, ambas as empresas formaram uma ampla rede em diversos Estados do país.

A tendência de construir sua própria estrutura de atendimento também vem sendo seguida por operadoras como Amil e Unimed Paulistana.

O desafio, entretanto, é convencer os usuários do plano de saúde que o atendimento da rede própria tem a mesma qualidade que a dos hospitais independentes. Afinal, com um caderno de referência em mãos com o nome de todos os locais onde pode se internar ou fazer exames, o paciente tem livre escolha. Nessa hora, pode ganhar vantagem quem tem sua imagem associada ao serviço que presta exclusivamente e, não a um plano de saúde.

Ao mesmo tempo em que aumenta a rede própria, a Medial quer reduzir o número de clínicas, laboratórios e hospitais credenciados. "Ao concentrar o atendimento em alguns fornecedores, a operadora ganha maior poder de barganha", diz o presidente. Em outra frente, a Medial também pretende adquirir planos odontológicos. Isso porque os clientes empresariais têm demandado hoje tanto serviços médicos quanto de dentistas.

A Medial foi a primeira operadora a abrir o capital no Brasil. Esse é um setor que tem preços e cobertura dos serviços regulados pela Agência Nacional de Saúde e que, nos últimos anos, assistiu à quebra de diversas empresas.

O objetivo da Medial - controlada por quatro famílias de médicos - com a oferta de ações é aproveitar o fato que algumas operadoras estão saindo do mercado para ganhar o espaço. O setor em si não tem crescido muito no país. De 2001 a 2005, o aumento no número de usuários foi de 13%, sendo que só 20% da população tem esse tipo de cobertura.

As ações da Medial estrearam na bolsa em 22 de setembro cotadas a R$ 21,5. Na sexta-feira, elas encerraram o dia a R$ 22,8, com alta de 6% em relação ao lançamento.