Título: Aliado do governo vê oportunidade para país exportar mais que petróleo
Autor: Murakawa, Fabio
Fonte: Valor Econômico, 02/10/2012, Internacional, p. A13

Miguel Ángel Pérez é presidente da Fedeindustria, entidade que reúne pequenas e médias empresas venezuelanas. Alinhado ao regime chavista, ele foi chamado pelo governo para integrar a Comissão Presidencial para o Mercosul. Veja abaixo trechos de sua entrevista ao Valor.

Valor: Qual o objetivo maior do governo venezuelano ao entrar no Mercosul? Importar mais ou também exportar?

Miguel Ángel Pérez Também exportar. Nós temos nos reunido muito com os produtores venezuelanos para dar-lhes oportunidades de identificar produtos e cadeias produtivas. O governo dispôs um fundo de US$ 500 milhões de dólares para aumentar sua capacidade de produção e para gerar uma oferta exportável, que é o nosso desafio agora, conseguir cobrir as necessidades e ter excedente da exportação. O consumo interno na Venezuela cresceu muito durante o governo Chávez, e o país tem uma fortaleza econômica que está associada ao negócio petroleiro, que gera muita renda, e a produção nacional não acompanha o crescimento do consumo.

Valor: Que produtos a Venezuela já está preparada para exportar quando se completar a integração ao Mercosul?

Pérez: Nós identificamos excedentes em alguns ramos, como produtos alimentícios, com camarão branco, peixes, fertilizantes, tintas, alguns tipos de polpa de fruta, queijo de cabra, flores, embalagens, vegetais desidratados, agrofertilizantes e agroquímicos. Esses ramos são os que os produtores nos disseram ter excedentes. Estamos quantificando esses excedentes. Mas nós cremos que é possível, uma vez que tenhamos mais claro quais são as vantagens competitivas, que a Venezuela possa também ser competitiva em produtos associados ao setor petroquímico, insumos para a construção e produtos metalúrgico.

Valor: Algumas entidades empresariais importantes, como a Fedecámaras, o Consecomercio e a Conindustria, dizem que não foram chamadas a dialogar sobre o processo de integração ao Mercosul. Por que eles não foram chamados?

Pérez: Essas três entidades são federações que estão acima de organizações de base. Eles têm uma posição política e partidária tomada. Nós estamos consultando todos os setores. Muitas informações que estamos recebendo na comissão se originam de câmaras afiliadas à Fedecámaras ou à Conindustria. O problema fundamental é a posição dos dirigentes [dessas entidades], não a instituição. Eles querem impor a sua visão sobre os temas, e isso não é diálogo.

Valor: O governo vai desvalorizar a moeda após as eleições?

Pérez: Essa é a pergunta. Nós achamos que é necessário manter uma taxa de câmbio que torne a produção nacional competitiva. Não posso dizer quando isso vai ocorrer. Mas sabemos que é necessário ajustar a taxa de câmbio. Acreditamos que, quando falamos de novo regime cambial, de novo sistema de administração de divisas, isso tem a ver com um comportamento da oferta e da demanda, da demanda cambial. Achamos que isso precisa ser feito regularmente, em função do desempenho econômico do país e dos interesses da produção nacional e do povo.

Valor: Quatro anos são suficientes para preparar a economia venezuelana para competir com os produtos que virão do Mercosul?

Pérez: Sempre, para alguns, será insuficiente. Eu creio que há vontade política dos presidentes do Mercosul, uma visão de integração que vai muito além do comércio. Há uma visão de construir um Mercosul que seja equilibrado, que permita a integração dos países. Nos parece que, como há uma visão distinta da integração por parte dos presidentes, isso garante um Mercosul equilibrado.

Valor: Se a oposição vencer as eleições, pode haver um passo atrás, ou a entrada da Venezuela no Mercosul é irreversível?

Pérez: Eu estou certo de que, se vence a oposição, haverá um passo atrás em tudo o que se realizou neste governo.