Título: Sai sentença do caso Celso Daniel
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 19/11/2010, Política, p. 8

Marcos Roberto Bispo dos Santos foi condenado a 18 anos pelo assassinato do ex-prefeito. Outros seis acusados ainda serão julgados

São Paulo ¿ A Justiça de São Paulo condenou, ontem, o primeiro dos sete acusados de envolvimento no assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel. À revelia, o réu Marcos Roberto Bispo dos Santos foi sentenciado a 18 anos de prisão por participação no assassinato do político petista, ocorrido em 2002. Bispo dos Santos foi considerado culpado pelo crime, que teve ainda dois agravantes: motivo torpe e impossibilidade de defesa. Os jurados, cinco mulheres e dois homens, condenaram o réu por unanimidade.

O julgamento ocorreu no fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, e durou oito horas. Bispo dos Santos foi julgado à revelia porque os oficiais de Justiça não conseguiram localizá-lo para entregar a intimação de comparecimento ao fórum. O juiz Augusto Galvão de França Hristov decidiu decretar a prisão preventiva do réu, dado como foragido. Com a condenação, a Polícia de São Paulo intensificou ontem a procura pelo preso de Justiça.

Apesar dos rumores de que Bispo dos Santos manteve-se foragido por conselho dos advogados de defesa, o defensor do condenado, Adriano Marreiro, garantiu, ontem, que não sabe onde está o seu cliente, mas anunciou que vai recorrer da sentença. ¿Não é correto condenar um réu sem que ele seja comunicado que irá a julgamento¿, disse o advogado, anunciando ainda que vai pedir anulação da sentença.

A promotoria usou um depoimento do próprio réu para acusá-lo no julgamento. Bispo dos Santos chegou a confessar que participou do crime à Polícia Civil. Mas, em juízo, negou essa versão e disse que havia sido torturado para confessar algo que não cometeu. Ao justificar a sentença, o juiz Hristov disse que o crime causou ¿desassossego social¿ devido ao cargo ocupado pela vítima.

O promotor Francisco Cembranelli, que atuou no caso Isabella Nardoni, fez a sustentação oral aos jurados. Segundo ele, o político foi morto porque tentou acabar com um esquema de corrupção que existia na Prefeitura de Santo André naquela época. Cembranelli disse ainda que o político do PT havia descoberto que parte da propina dada por empresários à administração da prefeitura era repassada à diretoria do partido para financiar caixa dois de campanha eleitoral. Segundo a promotoria, o dinheiro estava sendo desviado também para contas particulares dos envolvidos no esquema. Cembranelli não citou nomes de possíveis beneficiários.

A acusação sustentou que o réu foi o responsável por levar Celso Daniel de carro para um cativeiro, onde o ex-prefeito foi morto a tiros em 18 de janeiro de 2002. No embate entre a acusação e a defesa, ocorrido na fase final do julgamento, o advogado do réu e Cembranelli discutiram em voz alta por três vezes, causando tensão ao júri. O ponto alto da discussão foi sobre a questão das supostas torturas que Bispo dos Santos havia sofrido para confessar a sua participação no crime. ¿Optei por julgar o Marcos sozinho porque não há provas contra ele. Não tenho dúvida de que o Marcos entrou como `laranja¿ no caso para tirar a conotação política¿, disse Marreiro. Seis outros acusados ainda irão a júri pelo homicídio. Entre eles, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, considerado o mandante do crime.