Título: EUA ameaçam piorar clima nas bolsas
Autor: Zampieri , Aline Cury
Fonte: Valor Econômico, 25/09/2012, Finanças, p. C3

Se já não bastasse a novela da crise europeia, mais um ingrediente promete azedar os mercados nos próximos meses: o "abismo fiscal" dos Estados Unidos. O termo refere-se à combinação de aumento de impostos em função do término das isenções promovidas durante o governo de George W. Bush com o corte de US$ 100 bilhões nos gastos do governo.

As duas medidas entrarão em vigor automaticamente em janeiro de 2013, caso o Congresso americano não tome nenhuma atitude. Economistas estimam que esse aperto levará a economia dos Estados Unidos a cair em uma nova recessão.

Os analistas do Goldman Sachs chamaram a atenção de seus clientes de que o "abismo fiscal" também poderá chegar às bolsas. O estrategista-chefe do banco de investimentos, David Kostin, escreveu em relatório que o índice S&P-500 deve cair de forma acentuada após a eleição presidencial americana, que ocorrerá em 6 de novembro. Ele acredita que, após o evento, os investidores finalmente se darão conta de que o "abismo fiscal" não poderá ser resolvido sem turbulência.

Kostin argumenta que a maioria dos investidores espera que os políticos evitem o abismo fiscal antes do fim do mandato do atual Congresso. Contudo, o Goldman vê probabilidade de 30% de o Congresso falhar em lidar com a questão a tempo. O especialista estima que o índice S&P 500 poderá cair cerca de 15% até o fim do ano, para 1.250 pontos, e então se recuperar para ao redor dos 1.350 pontos em 12 meses.

Ontem, o S&P-500 recuou 0,22% e fechou aos 1.456 pontos. O Dow Jones caiu 0,15%, para 13.558 pontos, e o Nasdaq Composite perdeu 0,60%, para 3.160 pontos. Os velhos e conhecidos problemas da Europa voltaram a preocupar os mercados internacionais: as divergências entre Alemanha e França sobre um órgão unificado de supervisão bancária na zona do euro; o déficit orçamentário cada vez maior da Grécia, que foi destaque de uma reportagem da revista alemã "Der Spiegel"; o declínio do sentimento do empresário alemão pelo quinto mês seguido; e ainda a incerteza sobre se a Espanha vai ou não pedir ajuda financeira.

A bolsa brasileira, no entanto, ignorou a turbulência externa e subiu 0,96%, para 61.909 pontos, com volume elevado de R$ 17,301 bilhões, o que inclui os R$ 10,464 bilhões movimentados pela oferta de fechamento de capital (OPA) da Redecard. O Itaú Unibanco, controlador da empresa de cartões, obteve a adesão necessária dos acionistas minoritários e conseguiu tirar a companhia da bolsa, pagando R$ 35,00 por ação.

Operadores lembraram que os ex-acionistas da Redecard deverão reaplicar grande parte do dinheiro da OPA em outras ações nos próximos dias. Além disso, há sinais de migração de recursos de estrangeiros da renda fixa - onde os juros estão em queda e o governo ameaça ampliar o IOF - para a renda variável, que ainda é isenta desse imposto. Esses dois fatores ajudam a entender por que a Bovespa está descolada das bolsas internacionais. "Contra fluxo não há argumento. É alta na certa", comentou um gestor.

Entre as ações mais negociadas, Vale PNA subiu 0,38%, a R$ 36,84; Petrobras PN ganhou 1,14%, a R$ 22,96; e OGX ON disparou 5,07%, para R$ 6,63. Entre as maiores altas o destaque foi Duratex ON (4,61%), que anunciou a compra da Thermosystem, por R$ 63 milhões. Na outra ponta, Cielo ON perdeu 3,44%. A cruzada do governo pela redução dos juros dos cartões de crédito levou o BTG Pactual a reduzir a recomendação do papel, de compra para neutro.